Descontentamento em Matosinhos: "Tiraram paragens de autocarros em todo o lado"
Abrigos foram removidos em Matosinhos. Concessionária perdeu concurso em 2022 e impugnou decisão. Câmara não avança data para a reposição.
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“Daquele lado, onde é a paragem?”. Sentada no canteiro do prédio onde funciona a padaria Palácio do Pão, no centro de Leça da Palmeira, onde havia “um coberto e dois bancos” para quem espera pelo autocarro, Maria Azevedo responde a apontar para o sítio onde também existia uma paragem com abrigo e assentos.
“Aqui já não tem [abrigos] há cerca de um mês, mas ouvi dizer que a câmara ia pôr novos”, adianta a moradora e utilizadora dos autocarros da Unir, sem saber, contudo, quando serão repostas as estruturas. A presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, explica, ao JN, que tiveram de ser retiradas, agora, pela empresa que deixou de ter a concessão do serviço, por ter perdido o concurso público em 2022.
Apesar do procedimento ter decorrido há três anos, o processo de substituição acabaria por ficar “suspenso” à espera de uma decisão judicial, uma vez que a então concessionária, a JCDecaux, proprietária de 250 abrigos no concelho, avançou para tribunal para impugnar o resultado do concurso, que tivera como vencedor a empresa Alargâmbito.
“Estou farta de estar ali em pé, à espera do autocarro”, justifica Maria, que, tal como Isabel Pereira, resolveu transformar em assento o murete do edifício do Palácio do Pão, na Avenida Dr. Fernando Aroso, onde “todas as paragens tinham coberto”. “Acho que está assim em todo o concelho. Aqui, ainda há esta hipótese para as pessoas se sentarem”, observa Isabel, lembrando que, “no inverno, com chuva e sem o abrigo, vai ser complicado”.
“Não tem lógica”
“Da igreja [de Leça] até Perafita tiraram tudo. Foram cinco ou seis só aqui na avenida [Dr. Fernando Aroso], mas estão a tirar por todo o lado”, atesta Luís Marques, diante da paragem que foi totalmente removida em frente ao centro de saúde de Leça. “Isto não tem lógica nenhuma. Uma pessoa de idade não tem onde se sentar”, critica.
No centro de Matosinhos, perto da câmara, os passageiros recolhem-se na arcada do prédio da Galeria Mauritânia para se protegerem do sol quente da tarde. “Perto do centro de saúde, estava toda a gente sentada debaixo das árvores”, descreve Filomena Nunes, que diz que “não foi feito aviso nenhum” sobre a remoção dos abrigos, “há uns 15 dias”.
Mário Carvalho, que chega apressado à mesma paragem da Rua Alfredo Cunha, sorri, tranquilo: “Vão pôr paragens em todo o lado. Há uma equipa que anda a tirá-las e outra vai pôr novas. Mas vai demorar... Sei disto, porque puseram editais nas paragens antes de as tirarem”, assevera, antes de seguir viagem.
O tribunal “acabou por dar razão à Câmara Municipal de Matosinhos e à sua decisão de escolher a Alargâmbito como vencedora do concurso”, revela Luísa Salgueiro ao JN, explicando que, face à decisão da Justiça, “a JCDecaux é obrigada a retirar todos os equipamentos que são de sua propriedade, nomeadamente os 250 abrigos de paragem de autocarro que tem em Matosinhos, para se proceder à instalação dos novos abrigos da empresa, que agora ganhou o concurso”.
Ação nos meses secos
Sem concretizar quando serão colocados novos abrigos, a socialista confirma a convicção de Mário Carvalho e avança que “a empresa vencedora está a desenvolver o processo, com vista à instalação dos novos equipamentos”. Para isso, “foi necessário realizar um plano de desinstalação, que teve início a 15 de junho e que está a decorrer em todo o concelho”, detalha.
“Escolhemos os meses de tempo seco para minimizar os impactos negativos da falta de abrigos, mas temos consciência que se trata de um transtorno para os utentes de transporte público”, reconhece, no entanto, a autarca socialista Luísa Salgueiro.
Já acostumados à dinâmica da rede Unir, Mário e Filomena sobem, sem hesitar, para o autocarro 5002, com destino a Leça, ainda que a paragem continue a indicar que, ali, passam as linhas 505, 506 e 507. Do outro lado da ponte, Madalena Silva indigna-se com o serviço prestado: “Isto mudou, mas as paragens continuam erradas. Quem vai adivinhar que o 104 é, agora, o 5001? Há muita coisa que falha”.