Família guineense com cinco pessoas trocou habitação degradada em Lisboa por um apartamento em Sintra, que o senhorio quer agora reaver.
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Sem meios financeiros devido ao desemprego de todos os elementos da família, três infetados (para já) com covid, dois dos quais com anteriores problemas graves de saúde, cinco pessoas enfrentam agora o drama de ficar sem teto, porque têm de entregar o apartamento onde viviam desde janeiro, em Rio de Mouro, no concelho de Sintra.
"É um pesadelo! Não durmo há muitas noites, porque não sei para onde podemos ir... não temos dinheiro". É com a voz embargada que Neusa Sá Dju, de 48 anos, guineense de nascimento, mas a viver em Portugal desde 2010, dá conta da situação dramática que a família está a viver.
Depois de anos passados num anexo sem condições na Penha de França, em Lisboa, Neusa, o marido, Aguiar Dju, de 52 anos, e os filhos, Hunira, de 29, Desejado, de 27, e Boridaine, de 21, aproveitaram a disponibilidade de um compatriota para alugar um T3 em Rio de Mouro, contando com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Agora, o senhorio vai precisar de instalar a mulher e filhos, que chegarão da Guiné, e já fez saber que necessita do apartamento livre no final de março.
"Tivemos de deixar a casa em Lisboa, onde faltava a água e a eletricidade todos os dias. Nem conseguíamos lavar a roupa", recorda Neusa, sublinhando a qualidade de vida que a família ganhou com a mudança para Rio de Mouro.
Mas se a situação já, por si, era difícil, os problemas agravaram-se nos últimos anos. Neusa foi sujeita a duas operações, para lhe serem colocadas duas próteses nas ancas, o que a impede de movimentar-se sem o auxílio de canadianas e a impossibilita de trabalhar.
O marido, Aguiar, operário na construção civil, sofreu um AVC e está também impedido de voltar à atividade. Já os dois filhos mais velhos, Hunira e Desejado, tiveram de interromper os estudos e arranjar emprego, que acabaram por perder devido à pandemia. Boridaine, o mais novo, é o único que continua a estudar.
Sem dinheiro para teste
Para sobreviver, a família tem recebido cabazes de alimentos enviados pelo projeto solidário Gratitude e pela Junta de Freguesia de Rio de Mouro.
Os últimos dias agravaram ainda mais a débil situação daquele agregado, com a confirmação de três casos positivos de covid (Neusa, Aguiar e Desejado) e um inconclusivo (Hunira). Já o jovem Boridaine não tem número de utente do Serviço Nacional de Saúde, pelo que teria de pagar o teste. "Nós nem para comer temos, como poderíamos pagar isso?", questiona a mãe, amargurada.
Apoios só até abril
Fonte da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) adiantou ao JN que em janeiro "a família beneficiou de um apoio económico eventual" no valor de 400 euros. Mas tanto este como o de apoio à renda terminarão em abril, altura em que será reavaliada a situação da utente. Deixa, no entanto, em aberto "a possibilidade da SCML continuar a apoiar até junho".
Ainda segundo a mesma fonte, a SCML realizou o encaminhamento formal da situação deste agregado para o Centro Distrital da Segurança Social no passado dia 6 de fevereiro. Na mesma ocasião, foi estabelecido um primeiro contacto com a chefe de setor da Equipa de Intervenção Social Sintra.
400 euros é o valor atribuído pela Santa Casa da Misericórdia à família para o apoio ao pagamento da renda para habitação onde reside atualmente fora do concelho de Lisboa.