
Clara está de baixa por não ter com quem deixar o filho
José Carmo / Global Imagens
"Só queria um lugar para acolher o Pedro para eu poder ir trabalhar!", explica Clara Soares. A mulher é mãe de Pedro, um jovem de 17 anos com 100% de incapacidade. Não vê, não fala, não ouve e é alimentado por sonda. Clara está de baixa desde junho por não ter quem fique com o "menino". Agora, sem dinheiro para fazer face às despesas, tem uma ordem de despejo e 15 dias para deixar a casa. Sem pais e com os irmãos emigrados, não sabe o que fazer à vida.
Clara Soares divorciou-se há quatro anos. O pai de Pedro está emigrado. Vive com o filho, num apartamento em Vilar do Pinheiro, Vila do Conde. Pedro esteve no Kastelo - Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos, em regime ambulatório, até junho. A partir daí, os problemas começaram.
Clara trabalha num restaurante no Aeroporto Francisco Sá Carneiro das 9 às 16 horas e ganha 580 euros por mês. Tem folga à sexta-feira. Pedro foi encaminhado para o MADI - Movimento de Apoio ao Diminuído Intelectual, mas só "de segunda a sexta", das 9 às 17 horas e Clara não consegue trabalhar.
"O Pedro precisa de um lar. Pode ser só durante o dia, mas aos sábados, domingos e feriados é quando trabalho mais. Não posso estar de folga", frisa a mãe.
Sem portas onde bater
Dos 580 euros de salário passou a ganhar 400 por estar em casa de baixa, a que se somam 300 do abono do filho e 150 de pensão de alimentos. Gasta 370 de renda de casa, 400 para fraldas, seringas, medicação e alimentação específica para o Pedro, mais água, luz, gás. Tudo somado, mesmo com muita "ginástica", não chega.
"No mínimo, por dia, são duas seringas de alimentação [direta ao estômago]. Cada uma custa 1,95 euros. E a comida tem de ser toda passada e reforçada", explica Clara. Agora, tem três meses de renda em atraso e uma ordem de despejo.
"Tenho de sair até ao fim do mês", conta, ela que já bateu "a tudo quanto é porta" à procura de ajuda. É acompanhada pela Rede Local de Intervenção Social da Segurança Social. Tentaram um recurso ao fundo de emergência municipal. Foi recusado por Clara não viver há mais de dois anos no concelho. Câmara e Junta não têm solução para o seu "menino". Clara já não sabe a que mais "portas bater".
