Seis toneladas de cavacas foram atiradas da capela na Beira Mar. Festa termina terça-feira.
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A chuva até pode ter "estragado um bocadinho" a festa de São Gonçalinho, mas muitas pessoas continuaram a "pagar promessas" e, até ao início da tarde deste domingo, já tinham sido atiradas "cerca de seis toneladas" de doce do alto da capela, revelou o juiz da mordomia, Bruno Tocha. A festa termina terça-feira.
Para além da tradição que decorre junto à capela, há espetáculos musicais numa tenda com capacidade para 3200 pessoas. No sábado, a adesão foi tal que a tenda esteve com "lotação esgotada desde as 18 horas ate às 4 horas", revelou Bruno Tocha. Pelas suas contas, entre quem passa pelo largo da capela para atirar ou apanhar cavacas e quem desfruta das outras atividades do programa, a festa de São Gonçalinho atraiu, desde o arranque, na passada quinta-feira, e este domingo ao início da tarde, "mais de 60 mil pessoas", números semelhantes a 2019 e 2018.
Entre quem lança há devotos e "pessoas que o fazem apenas pela experiência", conta Bruno Tocha. Os testemunhos comprovam-no.
Vera Freitas, 40 anos, da zona da Beira Mar, é filha de um antigo mordomo e chamou ao filho Gonçalo, como forma de homenagem "ao santo e ao avô". Todos os anos vai lançar cavacas para "agradecer pelo ano e para que a família tenha saúde". Este domingo, aproveitou e comprou uma imagem do santo, que já tem lugar destinado na sua casa.
Já Gabriel Madeira, português a fazer Erasmus em França, aproveitou que as férias na terra natal coincidiram com a festa para dar a conhecer a festa "diferente" à amiga Elisa Lapierre. "Nunca tinha ouvido falar, mas é uma tradição engraçada", conta a jovem francesa, que se divertiu a apanhar o doce com um guarda-chuva.
"Desabafar com o menino"
A devoção de Deolinda Ferreira, 74 anos, ao santo, vem de longe. Há 50 anos, um irmão tinha o hábito de ir apanhar cavacas e levar para a família comer, em Ílhavo. O chão do largo era em terra batida e o doce ia cheio de terra, mas "limpávamos e comíamos, pois vivíamos mal", contou. O apego à tradição "fora do vulgar mas espetacular", ficou. Noutros anos fez promessas e atirou cavacas. Hoje, passou apenas pela capela para "desabafar com o menino", como é carinhosamente apelidado o santo.
Cruzou-se ali com Maria José Ferreira, de Águeda, que recuperou de um AVC e que meteu um saco de 10 quilos à cabeça para ir cumprir um hábito quase com 20 anos. Foi a filha, que estudou na Universidade de Aveiro, quem começou a lançar o doce e lhe deu a conhecer a tradição. A filha emigrou, mas a mãe garante que continuará a ir "enquanto "tiver vida e saúde".