Responsável pela Secundária rejeita qualquer pacto entre estudantes depois das duas mortes em maio e setembro. GNR e Ministério Público investigam.
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O diretor do Agrupamento de Escolas de Castro Daire negou qualquer pacto de suicídio entre alunos do Secundário local ou tentativa de suicídio nos últimos dias, conforme foi noticiado esta quinta-feira, após dois estudantes da mesma escola terem posto fim à vida em maio e setembro. "A informação que temos é que não houve qualquer tentativa de suicídio", afirmou esta quinta-feira ao JN o diretor do agrupamento, António Luís Ferreira. A GNR e o Ministério Público estão a investigar as situações.
Dois alunos da mesma turma do terceiro ano de um curso profissional, de 17 e 16 anos, suicidaram-se durante a noite, em maio e setembro, nas imediações de casa, em duas localidades de Castro Daire.
Os três casos recentes
Segundo apurou o JN, os colegas ficaram afetados e um deles, da mesma turma, disse à psicóloga da escola que se sentia mal, perturbado. A psicóloga resolveu informar a família, nomeadamente a mãe, da situação, pedindo-lhe para estar alerta ao comportamento do filho. A mãe acabou por questionar o jovem que confessou que tinha a ideia de se suicidar, num determinado local, e que para além dele teria outro colega da escola que pensava fazer o mesmo.
De imediato, conta a mesma fonte, a mãe informou as autoridades e a GNR foi a casa do referido colega, "surpreendendo a família e o próprio aluno, que negou, chegando a dizer algo como "então vou-me matar quando tenho aqui a pessoa que mais amo no mundo, o meu irmão"".
Dias depois, quando os pais já estavam alertados, a mãe de um aluno, também de um curso profissional da Secundária, estranhou o comportamento do filho, e chamou o INEM. O jovem, tal como os outros dois colegas, foram consultados no Hospital de Viseu e deverão ser acompanhados pela Unidade de Saúde de Coimbra.
O diretor do agrupamento não quis falar destes casos ao JN, repetindo que "não houve qualquer tentativa de suicídio". Revela que a escola, com a Câmara, Unidade de Saúde e GNR, "estão a trabalhar em conjunto com uma equipa multidisciplinar para ajudar os alunos afetados pela morte dos dois colegas", tendo uma equipa de psicólogos da escola sido reforçada com elementos da autarquia e da Unidade Local de Saúde Dão-Lafões.
Do resto, diz António Luís Ferreira, "o ambiente na escola é de normalidade, basta ir ao recreio para nos apercebermos", afirma o professor, que é diretor há 20 anos de uma escola que atualmente tem 733 alunos formados por 40 turmas do segundo ciclo ao secundário.
Os três alunos têm frequentado as aulas e a diferença está no aumento do número de pais que se deslocam à escola para obter informações, adianta o diretor, que lamentam a especulação que circula nas redes sociais. "Para além do comunicado, estamos sempre disponíveis para dar todas as informações e mostrar o que estamos a fazer no apoio aos alunos que precisam", disse António Luís Ferreira.
No sábado, a direção do agrupamento emitiu uma nota informativa para a comunidade educativa, no sentido de "recuperar a serenidade" após "as perdas irreparáveis", diz o texto, adiantando não o terem feito antes "sob pena de poderem perturbar o trabalho das equipas especializadas que estão no terreno". Uma delas é a GNR, que através do Núcleo de Investigação Criminal, já esteve na escola. Fonte oficial do comando de Viseu disse esta quinta-feira ao JN que está a acompanhar a situação "para perceber o enquadramento".
O JN apurou também que o Ministério Público abriu um inquérito para apurar o contexto dos dois suicídios, não tendo sido encontrado para já qualquer acusação de pacto entre as duas vítimas, estranhando, todavia, o efeito contagiante.
Atenção ao isolamento e alterações de humor
Mariana Moniz, psicóloga Clínica e Forense
Que situações levam um jovem ao suicídio?
Na adolescência o estado mental é muito vulnerável devido às mudanças, que causam ansiedade nos jovens. E se estes tiverem uma estrutura psicológica vulnerável, perante determinadas situações, podem surgir pensamentos suicidas. Em 2023, o suicídio foi a terceira causa de morte na adolescência no mundo. Pode ser provocada por isolamento social, "bullying", baixo rendimento escolar ou preconceito - étnico ou de orientação sexual.
Como se justificam os casos seguidos, como em Castro Daire?
Durante a adolescência, há um afastamento dos jovens relativamente aos pais e uma sobrevalorização dos pares, sejam amigos ou colegas. Quando há uma perda de um par, isso pode ter grande impacto e quando há suicídios, pode haver efeito contagiante.
Quais são os sinais de alerta?
Muitas vezes não há sinais, mas devemos estar atentos ao isolamento ou alterações de humor.
E nesses casos o que devemos fazer?
Pedir ajuda médica. E na escola e outras coletividades, educadores e colegas devem mostrar-se disponíveis para os ajudar, para os ouvir, para os acompanhar.