Utente da Guarda esperava por cirurgia há quatro meses depois de lhe ter sido diagnosticado cancro do cólon.
Corpo do artigo
Um doente oncológico de 70 anos, residente no concelho da Guarda, foi mandado para casa há oito dias, sem ser operado no hospital da Guarda, por falta de uma torre de laparoscopia adequada.
O idoso, ex-emigrante, e com a mulher acamada e dependente por conta de outro problema oncológico, deu entrada no hospital dois dias antes de fazer a cirurgia, uma hemicolectomia que remove parte do intestino, para ser submetido à habitual preparação intestinal, e, acabou por ser confrontado com a impossibilidade de ser operado.
"Estava pronto desde as oito da manhã para entrar no bloco, mas por volta do meio-dia entraram três médicos no quarto para me dizerem que não podia ser operado porque a máquina tinha avariado", disse ao JN o doente, que pediu para não ser identificado.
Esperava pela cirurgia há quatro meses, depois de lhe ter sido diagnosticado um cancro do cólon em junho passado e, por ora, não sabe quando é que voltará a ser chamado à instituição de saúde.
Avaria com duas semanas
O aparelho mais atualizado que o Conselho de Administração (CA) da Unidade Local de Saúde da Guarda tinha alugado há meio ano avariou há duas semanas, depois do corte acidental de um cabo.
Os cirurgiões contavam que a proprietária da torre de laparoscopia reparasse o estrago a tempo, mas não apareceu.
E só ainda não houve mais adiamentos porque voltou ao serviço um outro equipamento, de 2007, considerado obsoleto, que é usado em cirurgias menos delicadas.
Contactada pelo "Jornal de Notícias", a administração do hospital da Guarda refere em nota enviada à Redação que " a torre da laparoscopia ainda não foi reparada, uma vez que foi necessário enviar o equipamento para a marca" e que "a empresa ficou de diligenciar no sentido de resolver o problema através da colocação de uma nova torre, que ocorrerá durante esta semana".
Refere ainda o CA que foi também aberto um concurso público para a aquisição de uma nova torre que "está em fase de avaliação de propostas".
Outros casos
Torre de problemas
Foi em meados de março que a torre de laparoscopia, em uso há três anos na Unidade Local de Saúde da Guarda, foi retirada unilateralmente da instituição. A empresa proprietária não tinha exigido renda à anterior administração, mas acabou por recolher a máquina que tinha cedido a título de empréstimo, depois do atual CA ter reduzido para metade a compra de consumíveis.
Falha de material cirúrgico
Um doente oncológico, de 76 anos, foi mandado para casa por duas vezes em oito dias, em junho último, por falta de máquinas de sutura mecânica no hospital da Guarda. Em ambas as vezes, o utente já tinha feito a preparação intestinal para ser sujeito a uma anastomose, que faz a união do intestino para eliminar o saco externo que o doente transportava desde que lhe foi detetado o problema oncológico. O caso foi reportado à Ordem dos Médicos do Centro, que considerou o episódio "grave e sintomático do estado do Serviço Nacional de Saúde".
Medicamentos no lixo
Uma avaria detetada tardiamente em junho num dos frigoríficos da farmácia do hospital da Guarda deitou ao lixo medicamentos no valor de 20 mil euros. Em vez de "frigoríficos científicos", como lhe chamam os técnicos do setor, o departamento tem aparelhos domésticos que avariam sem se dar conta, por falta de um sistema integrado de monitorização dos aparelhos de frio.