António Santos diz que casa onde mora, em Gaia, não tem condições e teme longa espera por habitação social.
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Em protesto por não conseguir ter acesso a uma habitação digna, António Santos, de 49 anos, está há uma semana a viver no carro, em frente a um dos edifícios da Gaiurb, no Jardim da Rua do Capitão Leitão, em Gaia. A luta contra o cancro do pulmão decorre há três anos e António acredita que a falta de condições da casa que arrendou há cinco anos, numa ilha privada, na Rua do Caminho Velho, não muito longe de onde estacionou o carro, não lhe permitiu, ainda, ganhar a batalha.
Pediu uma casa à Gaiurb em 2016, mas só agora reside há um mínimo de cinco anos no concelho, critério obrigatório para submeter a candidatura. Por isso, receia o tempo que demorará a ser contemplado com uma casa. Atualmente, há 1906 pessoas na lista de espera.
O mofo e a humidade tomaram conta do ar que se respira na habitação, com uma cozinha e dois quartos. António suspeita que o recente aumento do tumor no pulmão se deva a essa insalubridade e lamenta que a casa de banho fique no exterior e não tenha sítio onde possa tomar banho. Arrendou o espaço porque a renda era de 70 euros. Entretanto, a ilha foi vendida e o proprietário propôs fazer obras. "Mas aumentava a renda para 350 euros e eu recebo 322 de rendimento social de inserção", esclarece, explicando que é eletrotécnico mas que está desempregado. "Os médicos pediram-me para não fazer esforços", diz. Tem ordem de despejo, mas continua a viver naquele local. "Não me tiram da casa por causa do cancro", afirma.
Explicação da Câmara
O doente fez um pedido para uma habitação social em 2016, mas como não vivia no concelho há pelo menos cinco anos, o mesmo foi classificado como "não enquadrável" até junho de 2021, explica a Câmara de Gaia. "Por isso, já lhe foi agendado um atendimento para proceder à formalização do pedido", acrescenta a Autarquia, dando nota de que todas as candidaturas recebem uma classificação com base em vários indicadores, tais como as condições de habitabilidade e salubridade, os problemas de saúde e o escalão de rendimento, por exemplo.
A Segurança Social sugeriu a sua integração num centro de acolhimento de emergência social, mas António rejeitou. A situação está a ser reavaliada.
Apoio à renda
A Segurança Social diz que o agregado também foi orientado para procurar uma casa no mercado de arrendamento "a fim de se analisar a possibilidade de apoio económico no âmbito da ação social", mas que "não apresentou qualquer proposta para análise".
Até 150 euros
"Não se encontra nada a menos de 500 euros. Não posso pagar. Até 150 ainda aceitava, mas ninguém vai arrendar uma casa por esse valor", desabafa António.