Dois Anos de Pandemia: jantares na varanda contra isolamento de quem vive num lar

Emília e Miguel, mãe e filho, num jantar normal, apesar do vidro a separá-los
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Instituição de Famalicão usou as portas em vidro, que rodeiam o edifício, para os idosos estarem com a família e, juntos, partilharem refeições e até celebrarem aniversários.
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"As famílias dos idosos que estão na "Mundo da Vida" têm o código da porta da entrada e podem entrar a qualquer hora sem avisar ninguém. A covid foi uma tragédia porque acabou com as visitas e quase morremos de saudades uns dos outros" - as palavras são de Miguel Oliveira, 42 anos, um dos seis filhos de Emília Gomes, 83 anos, residente na estrutura residencial para pessoas idosas, em Lousado, Famalicão.
Emília, tal como os outros 27 residentes, começaram a falar com as famílias por videochamadas e por telefone, mas "não era a mesma coisa".
"Os familiares estavam habituados a vir almoçar, lanchar ou jantar com os pais ou avós e, de repente, o contacto foi quase todo cortado", recordou Manuel Araújo, presidente da Direção da "Mundos de Vida", a instituição que dá nome ao lar. Sem solução para a doença, funcionários e Direção começaram a procurar saídas que aproximassem as famílias. A primeira foi a de aproveitar as varandas em vidro que rodeiam o edifício. O utente ficava dentro de casa e o familiar na varanda. Conversavam por telemóvel e, posteriormente, com auscultadores e microfone. Foi assim que se celebraram aniversários, que avós conheceram netos e bisnetos e que, sempre separados por um vidro, as famílias conversaram sobre tudo e mais alguma coisa.
"Um dia, uma funcionária sugeriu que fizéssemos jantares à varanda e foi das melhores iniciativas que tivemos", frisou Manuel Araújo.
Antes da covid, os familiares que aparecessem para jantar pagavam perto de quatro euros pela refeição. Foi isso que Miguel Oliveira pagou para "passar um dos melhores momentos da vida e matar saudades" de jantar com a mãe. Uma mesa dentro do lar, um vidro ao meio, e outra mesa na varanda. Mãe e filho com auscultadores e microfone, ela dentro de casa e ele fora.
"Foi um jantar normal, um de frente para o outro a falar da vida", recorda Miguel. "Não há pandemia que consiga separar verdadeiramente as famílias", remata.
