Com uma história de 600 anos para contar, o Moinho de Maré de Corroios, Seixal, reabriu ao público após nove anos de obras de requalificação e conservação. Agora, falta pôr o moinho a andar, mas só dentro de um ano.
Corpo do artigo
"Há uma parte do projecto de requalificação que ainda está em desenvolvimento. É a obra de dragagem para voltar a dar a funcionalidade ao sistema moageiro", avançou, ao JN, Graça Filipe, responsável do Ecomuseu Municipal do Seixal, que gere os espaços museológicos do concelho.
"Espero francamente que daqui por um ano estejamos com o moinho a funcionar", afirma, lembrando que em breve será adjudicado o estudo hidro-oceanográfico que irá analisar as repercussões da dragagem e do desassoreamento da caldeira em termos ambientais e ecológicos.
"Este funcionamento também contribui para a qualificação ambiental da zona envolvente", acrescenta a responsável, esperando que o moinho conquiste as pessoas e recupere os entre 20 a 30 mil visitantes que tinha por ano.
Directamente ligado ao Sapal de Corroios, o imóvel considerado de interesse público desde 1984 tem grande proximidade com o público. "Deviam pôr o moinho a trabalhar e a fazer farinha porque senão não tem piada", defende Norberto Monteiro, de 55 anos, residente em Vale Milhaços, congratulando-se com o trabalho de requalificação que foi feito.
"Espero que isto agora tenha mais movimento com visitas das escolas para que os miúdos saibam o que era um moinho de maré", considera Manuel Baleizão, de 76 anos. O habitante de Corroios já há muito que ansiava pela reabertura do espaço. "Estava a ver que nunca mais abria. Dantes até farinha faziam e vendiam", conta.
Quem entra no Moinho de Maré de Corroios, que é dos poucos da Europa a funcionar como espaço museológico mantendo a traça e características originais, começa por conhecer a cronologia de um edifício que foi mandado construir em 1403 por iniciativa do Condestável Nuno Álvares Pereira. Mais à frente, encontra-se a sala de moagem, onde apesar de não ser feita farinha, todos os objectos de confecção estão devidamente expostos.
"Não há futuro sem memórias", diz o presidente da Câmara, Alfredo Monteiro, frisando que, no Moinho de Maré de Corroios, também se conta a história de Portugal. "Este moinho vai continuar a funcionar com a farinha do biscoito e a moer pão", garante o autarca.
A produção de milho, trigo, centeio, arroz, cevada e das mais diversas farinhas é dada a conhecer através de um conteúdo multimédia sobre o funcionamento do moinho, que está disponível em quatro computadores. Num segundo piso, foi construído um pequeno auditório.
A reabertura do espaço, cujas obras de requalificação custaram mais de dois milhões de euros, é assinalada com um programa cultural. O quarteto de jazz Daniel Salomé Vieira actua hoje pelas 18 horas, após a apresentação, às 16 horas, de "Contos Contados com Som" pela Miso Music Portugal.