Máquinas, mobiliário e um armazém foram vendidos. 133 trabalhadores ficaram sem salários e sem indemnizações.
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A Azincon, mais conhecida por "Fábrica das Camisas", não tem património. Entre 2014 e 2018, a unidade, situada na zona industrial da Varziela, em Vila do Conde, vendeu tudo a uma empresa do filho da proprietária, a quem, desde então, pagava aluguer. Bruno Pontes era funcionário da fábrica e até requereu fundo de desemprego. O sindicato vai alegar "insolvência danosa". Os 133 trabalhadores não se conformam.
"É uma tristeza! Só espero que investiguem! Não nos pagou, fechou a fábrica e, no fim, ainda nos diz, na cara, que a Azincon não tem nada, porque vendeu tudo ao filho, que já abriu outra empresa!", afirma, revoltada, Carina Ferreira à saída da "Fábrica das Camisas", depois de uma reunião com os ex-patrões e o administrador da insolvência.
Cá fora, os 133 funcionários esperam-na: "Viemos embora sem papéis para o fundo de desemprego, sem ordenados, sem nada", diz Joana Sá. Tem três filhos de quatro, cinco e sete anos e o quarto a caminho. "Nesta altura não é fácil arranjar trabalho. Grávida muito menos", atira, ela que já foi pedir ajuda à Câmara "para conseguir pagar as contas".
Patrícia Eusébio está "muito preocupada". Tem duas meninas de quatro e 12 anos. Está em casa com covid-19 desde 20 de julho. Contaminada na fábrica, nem sequer está a receber a baixa a 100%, a que teria direito. "20 anos ali e nem os papéis!", lamenta.
Insolvência investigada
"Em 2014, venderam as máquinas à "Agulha Cristal", que, segundo os próprios, é do filho da dona da Azincon. O administrador da insolvência quis saber por quanto. Não há recibos de nada", explicou Madalena Sá, do Sindicato Nacional dos Profissionais da Indústria e Comércio de Vestuário e Artigos Têxteis. O mesmo aconteceu, entre 2018 e 2020, com três carrinhas e um armazém. Se já tinha suspeitas, ontem, Madalena Sá ficou com a certeza que esta foi "uma insolvência danosa" e "planeada". Vai enviar o processo ao Ministério Público.
Carina Ferreira nem queria acreditar: "O filho, que ficou com as máquinas, o mobiliário, tudo,... também vai receber fundo de desemprego? O Estado ainda lhe vai pagar?".
Madalena Sá pede-lhe calma. "É difícil", admite. Em 19 anos de casa, nunca teve um salário em atraso e sempre houve "muito trabalho". Faziam duas a três mil camisas por dia, sempre para a Zara. Num mês, tudo ruiu. A 20 de julho, a patroa disse-lhes que iam "dois ou três dias para casa". Tinham já vários casos de covid-19 na fábrica. Souberam "por portas travessas" que foi o delegado de Saúde a aconselhar o fecho "por uns dias". Dia 10 de agosto foram despedidas por carta. Junto, o rol de bens da empresa: cinco máquinas paradas há mais de dez anos e uma carrinha.