A Região do Douro vai transformar 90 mil pipas (550 litros cada) de mosto em vinho do Porto na vindima deste ano. É um decréscimo de 14 mil pipas face à campanha de 2023 e de mais 12 mil em relação a 2022. Cada pipa é paga, em média, a mil euros, o que significa uma quebra na ordem dos 26 milhões em dois anos.
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A decisão saiu da reunião do Conselho Interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), realizada esta quinta-feira, no Museu do Douro, em Peso da Régua. É uma das mais aguardadas do ano pelos viticultores, dado que é no benefício que têm a principal fonte de rendimento.
O benefício é o quantitativo de mosto que pode ser destinado à produção de vinho do Porto em cada vindima. As 90 mil pipas fixadas para 2024 foram aprovadas por maioria, tendo o presidente do IVDP, Gilberto Igrejas, votado ao lado da produção, já que o comércio pretendia apenas 85 mil pipas.
À partida para as negociações, a produção propôs 99 mil pipas de mosto. Por sua vez, o comércio, a braços com a maior incerteza do negócio e com stocks elevados, lançou para a mesa uma proposta com 81 mil pipas. Ou seja, menos 23 mil do que em 2023 e menos 35 mil relativamente a 2022.
Na reunião do Interprofissional da semana passada, o comércio admitiu subir a proposta até às 85 mil, enquanto a produção já se daria por satisfeita com 92 mil pipas. No final de mais de três horas de reunião sem consenso, esta quinta-feira, o presidente do IVDP, Gilberto Igrejas, explicou que a proposta das 90 mil pipas “resultou de uma tentativa de aproximação que não coincidiu com as das duas profissões”. Houve “uma necessidade de ajuste dos valores iniciais, por forma a tentar minimizar o prejuízo dos agricultores num ano muito difícil”, notou.
O vice-presidente do Conselho Interprofissional indicado pelo comércio, António Filipe, admitiu que “foi pena não se ter chegado a um acordo”. Explicou que a proposta das 85 mil pipas resultou de uma “ponderação do cenário macroeconómico”, das “tendências do mercado atuais e futuras”, da “quantidade de stocks que o comércio tem” e, “mais importante”, da recolha das “intenções de compra dos associados, que apontam para uma redução relevante relativamente ao ano anterior”.
Apesar de vencido, o comércio “aceita o resultado do jogo democrático” e, segundo António Filipe, vai “tentar, com todas as forças, encontrar maneiras de ultrapassar esta situação, que é manifestamente muito difícil, em particular para os lavradores da Região Demarcada do Douro”.
Produtores falam em "falência de todos"
O vice-presidente do Conselho Interprofissional representante da produção, Rui Paredes, lamentou “não ter conseguido fazer valer todas as pretensões” da profissão, já que a proposta era superior. Justificou que os viticultores “não conseguem suportar um preço que se mantém desde 2020 [mil euros por pipa]”, o que se traduz numa “perda de centenas de milhões de euros” para a região.
Rui Paredes considera que esta perda de rendimento progressiva é “uma falência de todos”, já que os concelhos do Douro “frequentam os últimos lugares do rendimento per capita do país”.
Ora, “o Douro é uma região riquíssima, que tem um património fantástico, com duas denominações de origem e um turismo a crescer exponencialmente, mas não consegue que o rendimento chegue às pessoas”. E isso leva a uma “erosão de jovens”, sublinhou Rui Paredes.