Preço justo, contrato de vindima e restauração da Casa do Douro estão entre as principais medidas apresentadas em reunião realizada, esta sexta-feira, na Régua.
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Os viticultores do Douro vão apresentar à ministra da Agricultura um caderno de reivindicações para salvar a atividade, que este ano está a enfrentar grandes dificuldades devido à falta de interesse das grandes empresas pelas uvas dos pequenos e médios agricultores. Preço justo para a uva, contrato de vindima para que quem produz saiba quanto vai receber e clarificação da situação da Casa do Douro são algumas delas.
As associações que representam a produção – Federação Renovação do Douro e Associação da Lavoura Duriense – promoveram, esta sexta-feira, na Régua, a primeira de duas reuniões para debaterem a situação com os agricultores e começarem a delinear as propostas a apresentar ao Ministério da Agricultura. A segunda está agendada para segunda-feira, 9 de outubro, às 15 horas, em São João da Pesqueira.
À saída da reunião desta sexta-feira, António Amaral, dono de sete hectares em Nagoselo do Douro (São João da Pesqueira) assumiu que “o Douro está um caos porque muitas pessoas venderam as uvas sem preço”. Ou seja, “não sabem quanto vão receber”. Esta situação aplica-se às uvas para vinhos de mesa, já que as destinadas a vinho do Porto estão, por norma, garantidas.
José Pereira, de Presendães, Alijó, queixou-se de que “este ano vão pagar muito menos do que o ano passado pelas uvas”.
“Disseram-me que se tivesse tinto e branco só iria receber 150 euros por pipa (550 litros) e que não valia a pena vindimar porque não dava para a despesa do corte”, lamentou.
“Uma situação dramática”, resumiu Justina Teixeira, de Mesão Frio, referindo-se a muitos colegas produtores que este ano estão a braços com “custos de produção acrescidos sem saberem quanto vão receber”. Justina disse também não entender esta crise no Douro, quando “há empresas a fazerem negócios de 30 e 40 milhões de euros na região, com compras e fusões, e depois não têm dinheiro para comprar as uvas aos viticultores a quem compraram durante toda a vida”.
"Preço justo já na próxima vindima"
No final de uma reunião de agricultores “como não se fazia há muitos anos”, Rui Paredes, presidente da Federação Renovação do Douro, destacou que as propostas a apresentar à ministra da Agricultura vão estar “muito focadas no preço justo já na próxima vindima, pois as pessoas têm de ser remuneradas pelo trabalho de uma forma condiga”.
Outra medida é “o contrato de vindima” que é considerado “fundamental”. Rui Paredes reforça que “nenhum viticultor pode estar sujeito a entregar as uvas sem saber o preço a que vende”, sendo que se pretende que “o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) controle o preço a que o viticultor e o comprador chegam acordo”.
José Manuel dos Santos, da Associação da Lavoura Duriense, destacou a “unidade da produção”, verificada também nas reuniões agora em curso, e acrescentou a necessidade de “o Governo decidir rapidamente a restauração da Casa do Douro”. Defendeu uma “organização representativa de todos os lavradores durienses e na qual eles se revejam e possam exigir responsabilidades”.
José Manuel Santos defendeu também que o Douro deve voltar a debater a produção de aguardente vínica para o vinho do Porto a partir da destilação de vinhos da região. “Porque é que nós consumimos 270 mil pipas de vinho oriundas de França, Espanha e Itália [para fazer aguardente] e nos não conseguimos resolver com 60 ou 70 mil pipas de excedentes que, afinal, todos os anos aparecem no Douro?”
Todos estão também de acordo na necessidade de melhorar a promoção dos vinhos do Douro, utilizando o dinheiro que existe para o efeito no IVDP, resultante das taxas pagas pelos viticultores, mas que está cativo pelo Ministério das Finanças.