Viticultores profissionais pretendem seguir o exemplo espanhol para valorizar a atividade e evitar o abandono
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A Associação dos Viticultores Profissionais do Douro (Prodouro) vai propor ao Governo que inicie o processo para a criação de uma lei que impeça comprar uvas por um preço inferior ao que custa produzi-las. É que enquanto as que vão para vinho do Porto são, por norma, devidamente valorizadas, para os vinhos com denominação de origem Douro há muito quem tenha prejuízo. A ideia foi apresentada esta sexta-feira por Rui Soares, presidente daquela associação, no III Colóquio Prodouro, realizado em Sabrosa. "Estamos a trabalhar para definir um intervalo de indicadores que nos permita estabelecer o verdadeiro custo de produção de uva na região", salientou.
Segundo Rui Soares, fala-se muito de "elevados custos de produção, produtividades baixas e baixos índices de mecanização" na viticultura de montanha da Região Demarcada do Douro. No entanto, "ninguém avança números fidedignos e sustentáveis". E não avança por que "não os há". É comum ouvir-se falar em "preços disparatados que variam entre 50 cêntimos e um euro por cada quilo de uva".
Claro que como "há vários Douros dentro do Douro", ou seja, grande diversidade de propriedades em dimensão, altitude, orografia e clima, "os custos são muito díspares". Quando o "intervalo do preço justo" for definido, o objetivo é tê-lo como "limiar abaixo do qual não se podem comercializar uvas". Soares vinca que "só assim será possível fazer da vitivinicultura uma atividade sustentável".
A lei que a Prodouro deseja para a uva, mas que pode aplicar-se a todos os produtos agrícolas, já existe em Espanha. Miguel Ángel Moreno, da Associação Agrária de Jovens Agricultores de Castela e Leão, veio hoje a Sabrosa apresentar o modelo de cálculo do custo da uva utilizado na região vinhateira de Rueda, que abrange Valladolid, Segóvia e Ávila.
Por ser uma região com menos de metade da área de vinha do Douro, praticamente plana e em que 97% da vindima é mecânica, não há comparação possível. Mas por haver uma lei que, segundo Ángel Moreno, "garante que os agricultores sejam compensados pelo seu esforço", foi feito um estudo que atesta que produzir um quilo de uva naquela região custa 0,51 euros, em vinha regada, e 0,47 euros, em vinha de sequeiro.
Compensação aos trabalhadores
Na próxima semana, a Prodouro vai formalizar junto do Governo uma proposta inspirada no apoio de 125 euros atribuídos a quem ganha menos de 2700 euros brutos mensais. O objetivo é "dar às empresas privadas a possibilidade de darem aos seus trabalhadores uma compensação extraordinária até ao limite de um salário". Mas "terá de ser isenta de IRS e Segurança Social para que o apoio chegue efetivamente ao bolso das pessoas".