Duarte e Madalena, de 13 anos, levaram os bois Bonito e Cabano à Expovez e ganharam prémio
Duarte e Madalena, primos, ambos com 13 anos, foram de cajado em punho, inscrever, este domingo, uma junta de bois, o Cabano e o Bonito, que viajaram de São Tomé de Negrelos, em Santo Tirso, até Arcos de Valdevez, para participar no concurso pecuário da Expovez. Ganharam o primeiro prémio.
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A tradicional competição, que por norma se realizava nas festas concelhias, passou este ano para o coração do certame e assumiu outro destaque, com a participação de perto de centena e meia de animais das raças autóctones Minhota, Barrosã e Cachena.
Bovinos de grande porte, alguns com mais de uma tonelada de peso, desfilam engalanados com fitas e flores, à volta dos (por vezes grandes) chifres. Para conquistar o 1.º prémio, os donos têm de os alimentar com “uma boa dieta”, dão-lhes banho, escovam-nos e até usam laca para organizar e fixar o pelo mais rebelde.
“O meu pai e o meu avô são criadores e trouxemos uma junta de bois, o Cabano e o Bonito, que são da raça Barrosã. Vamos a todos os concursos que podemos e eles costumam ganhar prémios. No último em que ficamos em 1.º foi em Felgueiras”, conta Duarte, neto de António, de 70 anos, e filho de António José, de 43. E que parece ter herdado uma “paixão” pela criação de bois, que tem atravessado gerações dentro da família, que em Santo Tirso é conhecida pelos “Lebres”.
“Isto já vem de família e nós estivemos quase desligados disto, mas a paixão ficou e voltamos novamente a agarrar há 20 anos, quando o meu filho tinha a idade que o meu neto tem agora e começou a pedir para criar”, descreve o avô António, contando que na noite anterior, Duarte e Madalena, “quase nem dormiram” para os acompanhar ao concurso. Certo é que conseguiram conquistar o primeiro lugar na competição.
“De pequenino é que se torce o pepino e eles começaram de pequeninos a contactar e a acompanhar os animas, a por-lhes a mão, a dar de comer e apaixonaram-se”, diz o patriarca dos “Lebre”, que tem junto ao vidro da frente da camioneta, um cartão que diz “1º prémio”, conquistado pela sua junta de bois noutro concurso. “Têm ganho muitos prémios. Tenho lá muitos troféus”, diz orgulhoso dos animais, que foram comprados ainda “pequeninos” e são “muito meigos”. Recorda que, anteriormente, teve um boi “campeão, durante sete anos”, a que deu nome de “Dourado”, que era o apelido do homem que lho vendeu.
“Era muito manso. Os meus netos eram pequeninos, sentavam-se na manjedoura, agarravam-se ao nariz dele e o boi abanava a cara com eles pendurados”, conta, observando com um sorriso na ponta dos lábios o filho e os dois adolescentes, a colocar ponteiras nos chifres dos bois, e a enfeitá-los com flores vermelhas e uma coleira de sinos.
Uma paixão que dá trabalho
“Isto é uma paixão, mas dá muito trabalho, muita canseira e muita higiene. Ontem, eram 10 da noite quando saí da beira deles e às cinco da manhã já estava lá outra vez para eles comerem”, comenta ainda o avô.
O seu herdeiro, António José, que responde por “Tó Zé”, reconhece que foi responsável pela continuidade da criação de bois dentro da família e que “agora não está fácil parar”. “O meu filho Duarte gosta disto. Enquanto está cá troca o telemóvel por isto”, disse, convicto que os seus “bons exemplares da raça” têm possibilidade de arrecadar o 1.º prémio, tal como mais tarde se confirmou.
À hora de fecho das inscrições, segundo a vereadora do Desenvolvimento Rural da Câmara de Arcos de Valdevez, Beatriz Silva, que se encontrava no recinto, estavam inscritos cerca de "140 animais" oriundos “de vários pontos do país”.
“É um concurso nacional porque nós não queremos só mostrar o que é nosso, também queremos mostrar aos outros que nós também temos muitos bons exemplares e queremos competir com o resto do país”, declarou, referindo serem importantes este tipo de concursos para fomentar o gosto pela pecuária nas novas gerações.
“Há muita gente que trabalha o ano todo para trazer estes animais aqui e é um orgulho tal que não importa quem ganhar o prémio. É a partilha, a entrega e percebermos que o sector não morre. Estes animais representam o futuro de uma raça que nunca vai acabar”, disse, concluindo: “Basta ver quem traz estes animais a prémio. Cada vez mais temos novos jovens produtores, que já estão a substituir os pais, pessoas com 80 anos, mas que continuam a querer vir cá com os filhos”.