Vila Chã, em Mondim de Basto, é gerida pelas juntas de Bilhó e Vilar de Ferreiros. População entende que devia pertencer tudo à mesma.
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Se quiser ir rezar à Capela de Santo António, em Vila Chã, a Teresa Costa basta-lhe dar meia dúzia de passos. Vive mesmo ao lado. É a zeladora e, por isso, tem a chave. Se abrir a porta da frente, entra pela freguesia de Vilar de Ferreiros. Se abrir a lateral, entra pela freguesia de Bilhó, na qual também está o altar. Ambas pertencem ao concelho de Mondim de Basto.
Vila Chã é terra pequena, na encosta da serra do Alvão, onde só já vivem umas 40 pessoas. Ainda assim, repartida pelas duas freguesias. A divisória está na interseção entre a rua que ficou com o nome da aldeia e a que leva à capela. Nada que faça diferença a Teresa, que confia no que "os antigos estabeleceram à maneira deles".
Quem vive na parte sul da localidade pertence a Vilar de Ferreiros, que dista 11 quilómetros por estrada. Quem tem casa na zona norte cabe a Bilhó, que fica a 2,5 quilómetros e onde é necessário passar para ir de carro a Vilar.
Há quem tenha casa quase em cima da linha que as separa e não ache grande graça. Joaquim Gaspar e Patrocina da Costa foram emigrantes no Luxemburgo. Reformados, ainda lá vão umas temporadas, mas já passam mais tempo em Vila Chã. Calha que quando recebem o correio, "as cartas da Câmara trazem a morada com Bilhó e as das Finanças vêm com Vilar de Ferreiros". A explicação de Joaquim é que "a casa estava em Vilar, mas andaram para aí com umas mudanças sem consultar os habitantes e dizem que agora está em Bilhó". "Isto não tem jeito nenhum", acrescenta Patrocina.
"Passar tudo para Bilhó"
Não é que esta "pertença" a duas freguesias distintas, como atesta o papel de envelope, traga grandes transtornos à vida do casal, já que "as cartas acabam por chegar à mesma". Porém, tanto Joaquim como Patrocina entendem que "já vão sendo horas de se reorganizar a divisória e passar tudo para o Bilhó". "Porque fica tudo mais perto e as pessoas já fazem vida lá", entende o irmão de Joaquim, Serafim Gaspar, que construiu casa ao lado, na freguesia de Vilar.
No fundo da aldeia, uma mulher vem à porta de casa dizer ao repórter que faria mais sentido estar a aldeia toda na mesma freguesia. "Por mim queria pertencer ao Bilhó. Só porque está mais perto". Afinal, "quando as pessoas querem ir à missa é lá que vão".
Não se compromete em deixar a vontade associada ao seu nome. "Não e não. Fale com pessoas mais antigas", vai dizendo, enquanto se afasta, talvez por temer que a sua confissão leve a outras desavenças, como aquelas de que reza o passado, embora essas ligadas à extração de resina, que acabaram em tribunal. "A divisão dá sempre alguma confusão". E retira-se.