A nadadora de águas livres Mayra Santos disse que se tornar na primeira pessoa "a abraçar a Ilha do Porto Santo a nado é indescritível", depois deste sábado ter dado a volta à ilha a nado.
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"Esperava tanto isto, sonhei com este momento durante um ano. Poder 'abraçar' o Porto Santo foi indescritível", sublinhou a nadadora brasileira, que vive na Madeira há 19 anos.
O trajeto de 32 quilómetros, sem interrupções, nem assistência, foi realizado em 11:19.52 horas, sendo a previsão de 12 horas. Iniciou-se às 7 horas, no Cais Velho da "Ilha Dourada", local onde terminou, perto das 18.20 horas.
"O pior foi que apanhei uma infeção no olho ao longo do percurso, porque entrou água nos meus óculos e não podia tirá-los a toda a hora, por isso continuei. Mas, como uso lentes de contacto, o sal da água do mar foi magoando o olho esquerdo, que parece que tenho uma 'bola'", adiantou Mayra Santos, de 44 anos.
Segundo a brasileira, natural de Minas Gerais, o problema ocular "foi desmotivante", porque teve de ir gerindo a dor, que, de acordo com a mesma, foi muito superior ao cansaço muscular que já era esperado, tendo nadado grande parte do percurso com o olho esquerdo fechado.
Na antevisão à aventura, que preparou durante um ano, esperava que a costa norte lhe oferecesse mais dificuldades, o que não se verificou.
"No Ilhéu da Cal, na Calheta, onde esperava ter mais dificuldade, não tive e consegui nadar muito rápido nessa zona, ao contrário da costa sul, que pensava que ia estar ainda melhor e ia recuperar o esforço todo, mas foi o oposto, apanhei corrente contra e muito forte e tempo muito nublado", frisou.
Estiveram centenas de pessoas na chegada de Mayra Santos, que ocuparam o cais para ver a nadadora recordista passar, para alegria da agente imobiliária de profissão, que já tinha revelado que o que mais queria na sua chegada era "calor humano, após muitas horas com a cara na água".
"Foi da maneira como esperava, muita gente à minha espera, passei por baixo do cais que estava cheio de pessoas, foi uma emoção tão grande que só tive vontade de chorar", afirmou a atleta, que já conseguiu dois recordes mundiais de natação estática, em 6 de novembro de 2020, ao nadar mais de 30 horas contra a corrente - melhorou o recorde feminino, que era de 24 horas, e bateu o masculino, que era de 30.
A prova na Ilha de Porto Santo foi feita de "olhos postos" no maior sonho da nadadora, "fazer a maior distância nadada em oceano", que, até à data, tem o registo masculino de 170 quilómetros e feminino de 124, "ambos realizados nas Bahamas, em água quente e sem grandes correntes", mas que Mayra Santos pretende realizar na volta à Ilha da Madeira, 144 quilómetros, mas, para isso, precisa de apoio e ultrapassar "um oceano de burocracias".
Antes da volta à "Ilha Dourada" cumpriu em setembro de 2019 a travessia entre Porto Santo e Madeira, 42 quilómetros em 12:07 horas, em novembro de 2020 assegurou o recorde mundial de natação estática, um total de 30 horas, em junho do ano seguinte tornou-se na primeira mulher a descer o Rio Zêzere, 45 quilómetros em 15 horas, tendo, no ano transato, completado a dupla volta a Manhattan, nos Estados Unidos, uma distância de 100 quilómetros, em 20 horas, menos quatro do que o previsto.