"É uma conversa para parolos" - António Alexandrino exemplifica a revolta da população de Amarante, que não acredita na promessa de fazer deslocar ao hospital local cirurgiões sempre que necessário. A unidade deixou de ter cirurgiões ao fim-de-semana.
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A medida tem como objectivo reduzir custos, poupar nas horas extraordinárias. Mas para os utentes - que não se restringem aos moradores de Amarante - é mais um sinal da perda de importância da unidade, que integra o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa.
A população não acredita nas boas intenções de quem decide. Fala, isso sim, "em mais uma factura que será paga pelos mesmos do costume" e que "empobrece as condições de vida" de quem vive no concelho, conforme referiu António da Costa Alexandrino, emigrante na Suíça.
"Estamos abandonados e esquecidos. Não merecíamos isto", desabafou Paulo Silva, que reside no Marco de Canaveses. Já Raimundo Gonçalo Barbosa, 71 anos, de Ancede, Baião, considera que se trata de uma decisão "muito má". A alternativa de Penafiel também não agrada. "Aquilo está a rebentar pelas costuras. Só com cunhas é que uma pessoa se desenrasca", criticou.
José Luís Catarino, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar, explicou, ao JN, a decisão: "Ao fim-de-semana, os dois ou três cirurgiões que são precisos para garantir as 24 horas do serviço não tinham grande trabalho, raramente eram chamados a intervir. Em meio ano foram chamados só uma vez. Isso significa que oneravam muito as contas do hospital em termos de horas extraordinárias".
O responsável garante que a medida "em nada vai afectar os utentes". "Trata-se, tão só, de uma questão de reorganização dos serviços. Como as cirurgias passaram a ser feitas à segunda e à terça-feiras, os utentes têm alta entre quinta e sexta-feira, logo, não faz sentido ter três cirurgiões no hospital, a dormir, sem nada para fazer. Antes, as cirurgias eram feitas à quinta e sexta-feira, aí tinha que haver apoio no fim-de-semana, o que não acontece agora", acrescentou Catarino.
A argumentação não convence os utentes, que ainda se lembram do encerramento da cirurgia nocturna, em 2007, por decisão do então ministro da Saúde, Correia de Campos. A própria Câmara, socialista como o actual Governo, merece críticas. O JN tentou ouvir o presidente da Câmara, Armindo Abreu, mas não foi possível até ao fecho da edição.