O presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, sugeriu que tanto a Infraestruturas de Portugal (IP) como a Câmara do Porto conheciam as propostas alternativas do consórcio LusoLAV para o TGV, apesar de terem dito o contrário.
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"Porque é que a IP diz que não sabe de nada? Alguém aqui nesta câmara acredita que a IP não sabe de nada disto? Digam-me sinceramente. Alguém que levante o braço se acredita que a IP não sabe de nada disto", questionou Eduardo Vítor Rodrigues, observando zero braços levantados na Assembleia Municipal de Gaia, que discutiu várias propostas alternativas para a linha de alta velocidade entre sexta-feira à noite e hoje de madrugada.
Em causa estiveram propostas não vinculativas da autarquia a alterações ao traçado propostas pelo LusoLAV (que venceu o concurso do primeiro troço da linha de alta velocidade), no caso uma localização alternativa da estação de Gaia (Vilar do Paraíso) e a possibilidade de se fazerem dois e não um tabuleiro sobre o rio Douro.
As propostas não anulam as soluções anteriormente sugeridas (estação em Santo Ovídio, uma única ponte rodoferroviária e mais traçado em túnel) e já tinham sido aprovadas em reunião de Câmara em 10 de abril, e cujo conhecimento foi negado pelo Governo, IP e Câmara do Porto.
Eduardo Vítor Rodrigues disse que levou a discussão aos órgãos municipais após "ter consultado um conjunto de juristas das próprias estruturas que estão envolvidas, que obviamente, cá para fora, têm de dizer que não sabem de nada, mas que estão a acompanhar o processo".
O presidente da Câmara de Gaia, que abandonará o cargo na segunda-feira, questionou ainda se "alguém acredita que a Mota-Engil [empresa que lidera o consórcio LusoLAV] está a fazer estudos nas costas da IP quando é a IP que vai aprovar".
"A IP tem de dizer que não sabe, como o Porto também tem de dizer que não sabe, porque o Porto optou por não discutir isto desta forma [em reuniões de câmara e assembleias municipais]. O Porto não disse que não está a discutir com a Mota-Engil. Disse que politicamente não sabe de nada, o presidente ainda não sabe de nada, o vereador também não", acrescentou ainda Eduardo Vítor Rodrigues.
O autarca disse ainda que o projeto vai sair mais caro que o contratado.
"Neste momento, a Mota-Engil está nos limites da sustentabilidade do próprio projeto. O dinheiro pelo qual o famoso secretário de Estado [Frederico Francisco] do Partido Socialista lançou a concessão é inferior ao valor da obra. Ponto. Podem escrever", garantiu o autarca, também socialista.
A Lusa questionou a IP, a Câmara do Porto e o consórcio LusoLAV sobre as declarações de Eduardo Vítor Rodrigues e aguarda resposta.
As propostas foram hoje aprovadas com votos favoráveis do PS, presidentes de junta (PS), PSD, CDS-PP, PAN, BE, CH, abstenção de CDU e contra da IL. O PSD votou a favor após ter votado contra na reunião de Câmara de abril.
Para Eduardo Vítor Rodrigues, seria um "erro histórico" não votar favoravelmente a proposta alternativa para a estação, pois no seu entender, ao defender-se exclusivamente uma solução, Gaia correria o risco de acabar sem nenhuma.
"Eu sei os movimentos que ainda hoje se fazem contra a estação de Gaia. A questão da alternativa pôs-se como não perder nenhum 'pássaro'", disse, admitindo que tem "medo que vá cair" e que por isso prefere "ir ao mar com duas boias do que ir só com uma, correndo o risco dela rebentar".
Nos votos não favoráveis, o deputado da CDU André Araújo rejeitou decisões à "porta fechada" e perguntou se a discussão "é ou não motivada pelos interesses económicos do consórcio", questionando ainda "quem é que decide a mobilidade na região".
Já Gonçalo Pinto, da IL, defendeu que uma estação em Vilar do Paraíso levaria a uma maior utilização do automóvel para lá chegar, defendendo que se retiram carros da estrada "colocando estações no meio do miolo urbano, não fora" e evitando novas deslocações pendulares de carro.