Pais dizem que não deixava as crianças comer, obrigava-as a despir-se e não lhes permitia ir à casa de banho.
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Uma educadora do Jardim de Infância EB0, em Tondela, foi suspensa pelo Ministério da Educação, por suspeitas de maus-tratos físicos e psicológicos sobre crianças dos três aos seis anos, apurou o JN junto de vários encarregados de educação, alguns dos quais já retiraram os filhos da instituição pública.
Sem quererem ser identificados, alguns dos pais relataram aquilo que cerca de 25 crianças, de uma das quatro salas da escola, terão alegadamente sofrido às mãos da educadora.
"As crianças, se não comerem a sopa, não comem mais nada durante o dia todo. O castigo é começarem-se a despir. Primeiro, descalçam-se, depois tiram as meias, as calças, até ficarem em cuecas. Não podem ir à casa de banho se tiverem vontade", conta uma das mães.
retirada à força em 2018
Os relatos de maus-tratos desta educadora, com cerca de 60 anos, sobre crianças não são de agora. Já vêm de há pelo menos cinco anos, altura em que foi internada compulsivamente, depois de ser retirada à força da escola pelo INEM e GNR local.
"O meu filho frequentava a sala e deixou de comer. O lanche vinha todo para casa. Eu questionei-o porquê e ele dizia que era a educadora que não o deixava lanchar. Pareceu-me suspeito, mas às vezes os miúdos inventam esse tipo de coisas. Deixei andar, mas a história repetia-se demasiadas vezes e eu comecei a questionar o grupo de pais", revela uma mãe que tinha o filho naquele jardim de infância em 2018.
A verdade é que a história se repetia de criança para criança e começavam, também, a surgir aquilo que chamam de "castigos pouco pedagógicos". "Começaram a falar de castigos, de passar muito tempo em filas. Passavam horas antes da refeição. Tinham de estar muito quietinhos, não se podiam mexer. Estavam naquilo meia hora, 40 minutos, antes de irem para o refeitório", recorda.
Foram várias as queixas e exposições feitas, naquele ano letivo, à Direção do Agrupamento, que garante a qualidade do jardim de infância. A situação escalou ao ponto de a docente ter de ser retirada à força da escola, em fevereiro de 2018.
"A educadora teve uma crise no meio da componente letiva com os miúdos e a diretora [do Agrupamento] assistiu a tudo. Na altura, saiu da escola com intervenção da GNR e do INEM. Saiu sedada, com um colete", relembra outra mãe. A docente terá regressado quatro meses depois, em junho.
Foi agora suspensa pelo Ministério da Educação, enquanto decorre um processo disciplinar que será instruído pela Inspeção-Geral da Educação e Ciência (IGEC).
Contactada pelo JN, a educadora não quis prestar quaisquer esclarecimentos.
Resposta
Diretora garante infantário de referência
A diretora do Agrupamento de Escolas de Tondela Cândido Figueiredo, Helena Gonçalves, garante "que a situação foi tratada de acordo com as suas competências". Certo é que só agora, meio ano depois dos primeiros sinais e de várias queixas dos pais e funcionárias, foi aberto um processo disciplinar, com afastamento preventivo da docente. Helena Gonçalves assegura que "o jardim de infância de Tondela é um estabelecimento de educação e ensino de referência no concelho e assim continuará a ser".
Registos
4 crianças já foram retiradas pelos encarregados de educação do jardim de infância. Uma outra mudou de sala. Certo é que se a suspensão da docente não se verificasse, seriam muitos mais os pais a retirar os filhos.
História repete-se
Há 10 anos houve relatos de alegados maus-tratos da mesma educadora noutro infantário do concelho, em Canas de Santa Maria. Segundo alguns pais, a docente deixava as crianças que faziam birra para comer sozinhas numa arrecadação.