Isabel Marques, tratadora de cavalos, desdobra-se em cuidados com “Asdu Roet”. O animal da raça sela francês (selle français), é um dos 340 que está a competir, este fim-de-semana, no 14.º Concurso Internacional de Saltos de Ponte de Lima.
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Na prova participam cavalos que podem valer “mais de meio milhão de euros” e que são preciosos a nível de competição. Por isso, são tratados com uma delicadeza e exigência extremas. Desde o piso, que também pode valer “centenas de milhar de euros”, às boxes, luz, água, comida, banhos, cremes, massagens, caminhadas e até caneleiras e mantas próprias.
“Sinto que tratá-los, é como tratar de bebés”, comenta a tratadora Isabel, que veio de Santa Maria da Feira, para cuidar de “Asdu Roet”. Entra ao serviço cerca entre as 6.30 horas e as 7 horas, e ocupa todo o dia com ele, entre dar ração, fazer-lhe “a cama” pela manhã, passeá-lo. Mimá-lo.
“Este cavalo agora está a saltar Grande Prémio, que é 1,45 metros [obstáculos]”, justifica, enquanto fala com o Jornal de Notícias e não para de andar de roda do animal de grande porte, castanho. Unta com vaselina algumas partes “assadas” do corpo do animal, pincela os cascos com unto, afaga-o. “Este tem uma personalidade muito especial mesmo. Por exemplo, se o feno for um bocadinho mais fraco ele já não o come, se a água estiver um bocadinho mais suja já não a bebe. Ele sabe o que vale…”, ri Isabel Marques, que quando questionada sobre valores de animais como o seu “protegido”, reponde que em Ponte de Lima, há, neste momento, exemplares que podem valer “entre 40 mil a 500 mil euros, ou mais”.
“Há cavalos com sorte”, é o lema da empresa [Celicerca] que trata do piso do recinto da Expolima. E define bem o que ali se passa em dias de provas equestres. Segundo o empresário, Paulo Marques, um piso para eventos de alta competição pode valer “até 700 mil euros”. “Quem está fora [do mundo equestre] não imagina a exigência do que é um piso e, claro, de tudo o resto, das boxes, dos cuidados, a parte de veterinária, das ferraduras, tudo. Agora o piso é onde eles se mostram e ganham. O cavalo se estiver dentro da boxe não se valoriza”, afirma, indicando que “em termos de preço metro quadrado, [o piso] anda entre 30 e 45 euros o metro quadrado”.
Pedro Penha, responsável pelos bastidores do Concurso de Saltos, concorda: “O piso é quase 90 por cento deste concurso, porque cavalos de uma tonelada, 800 ou 900 quilos, ao saltar estão a fazer uma força de quase duas toneladas e o piso tem de ser elástico”.
Trezentos e quarenta cavaleiros, oriundos de 11 países, estão a competir até domingo no recinto da Expolima. Filipe Pimenta da organização comenta que, no recinto do evento, estão presentes “alguns cavaleiros estrela”. “São figuras nacionais que tudo que é mundo do cavalo os tem como ídolos”, refere, considerando que, por isso, todos os cuidados são poucos com tudo.
“Temos de ter muito cuidado com a qualidade do piso das pistas, das boxes e há aqui um projeto futuro para requalificar a parte do ‘backstage’ que trabalha 24 horas e que é onde os cavalos estão alojados e que não está acessível ao público, nem pode estar, mas que é uma autêntica vila”, frisa o organizador, sublinhando a importância do chão que pisam tão “ilustres” cavalos e cavaleiros. “O cuidado com os cavalos de alta competição [cerca de % dos animais presentes] é uma exigência internacional e nossa. Se não houver bons pisos, os cavaleiros não vêm saltar, porque isso tem repercussões nas articulações dos animais, etc. E, por isso, Ponte de Lima fez há pouco tempo um investimento importante na requalificação dos pisos”, indicou, destacando “o número recorde” de participações no Concurso de Saltos deste ano, um dos cerca de uma dezena de eventos equestres [Feira do Cavalo de 4 a 7 de julho, dedicado ao cavalo Lusitano, é o maior] que aquela vila do Alto Minho vai realizar este ano.
Bruno Rente, presidente da Federação Equestre Portuguesa, considera que “Ponte de Lima já está não só no panorama nacional como no panorama internacional”, no que toca a provas equestres. Ao JN destacou que “o desporto equestre em Portugal vive um muito bom momento”. “Temos crescido em todos os aspetos. O número de filiações ao longo dos últimos três anos foi superior a 40 por cento [atletas federados] e a nível de clubes temos sentido um surgimento de novos e mais investimento em infraestrutura”, evidenciou, acrescentando que, atualmente, aquela federação conta “nove mil filiados”. Bruno Rente, destacou a presença em Ponte de Lima, este sábado, da Federação Hípica Galega, com quem se irá “tentar encontrar pilares de desenvolvimento”, no âmbito de uma cooperação transfronteiriça.
Pelo recinto “desfilam” pessoas com indumentária alusiva ao mundo equestre. Não só os cavaleiros, mas também acompanhantes e visitantes, que exibem chapéus, botas, acessórios e leques para o calor.