Ao contrário de outros comerciantes de Valongo, Sara Santos não alimentava ilusões quanto à implementação da quarta fase do desconfinamento no concelho: tinha a certeza que não iria avançar. "Já sabia que não ia abrir. Valongo está muito mal há muito tempo. Não tinha expectativas, mas queria que abrisse", confessou ao JN, esta sexta-feira, a funcionária de uma loja de roupa no centro da cidade.
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Ali perto, onde Paulo Carvalho abriu um restaurante-bar no início deste mês, ainda havia esperança, mas esta dissipou-se na quinta-feira, quando o primeiro-ministro, António Costa, anunciou a manutenção das medidas restritivas da terceira fase no concelho, à semelhança de Paredes e Miranda do Douro, por estes territórios registarem uma incidência de covid-19 bastante superior a 120 casos por 100 mil habitantes.
"Estava com expectativa que abrisse, no mínimo, no dia 3", revelou o empresário, a quem resta "esperar que melhore, para a semana". "O fim de semana significa 60 a 70% da faturação de um restaurante e isso é uma coisa de que pouco se fala", alerta Paulo Carvalho, que desde 2019 tem outro espaço idêntico em Sintra.
Apesar de poder estar aberto até às 13 horas ao sábado e domingo, opta por não abrir as portas, porque "não compensa minimamente estar aberto para só vender cafés". E lembra que "ninguém vai almoçar das 11.30 às 12.30 horas". Não fazer negócio ao fim de semana "é uma quebra brutal", admite, sublinhando que "o mais grave são os apoios, que não chegam". "Como é que a gente sobrevive?", interroga.
"Agora, esperamos por quinta-feira da próxima semana, quando o primeiro-ministro falar, para sabermos como organizar a nossa vida. Mas, independentemente de [a avaliação] ser semana a semana, as pessoas aqui deviam começar a ter cuidado, para ver se isto melhora", apela Paulo Carvalho, fazendo alusão às festas com dezenas de pessoas que já foram interrompidas pelas autoridades no concelho. "Alguma coisa não está a correr bem", diz.
Com uma papelaria aberta no centro de Valongo, também Sílvia Quelhas aponta o dedo àqueles eventos ilegais. "As pessoas deviam ter juízo. Valongo também é Ermesinde, Alfena, Campo e Sobrado, e o concelho todo é que vai pagar. Não acho justo, mas, agora, tem de ser. Os comerciantes é que acabam sempre por pagar", lamenta.
"Aquelas pessoas que não tiveram consciência até agora, deviam começar a ter. Tenho pena que o país esteja a desconfinar e que nós aqui ainda estejamos nesta fase. Espero que, com isto, as pessoas ganhem um bocadinho mais de juízo, para que a situação comece a normalizar", pede a comerciante.
Apesar de, normalmente, no fim de semana apenas abrir a loja ao sábado de manhã, Sílvia Quelhas observa "muito pouco movimento" durante os períodos em que vigoram as restrições. Tal como Laila Gomes, que vende alimentos e produtos de higiene e nota que "o fim de semana é super diferente; é uma quebra brusca". Anseia, por isso, que "as coisas voltem a funcionar normalmente".
Continuar na terceira fase do desconfinamento "é muito mau, porque, antigamente, antes da covid, vendia-se muito bem ao sábado à tarde; era uma festa", recorda Sara Santos, que contabiliza na loja de vestuário "uma quebra de 40 a 50%".