<p>Um emigrante foi encontrado sem vida num apartamento dos arredores de Paris. Estava morto há dois anos e foi identificado pelo número de série do aparelho auditivo. Um caso de solidão cada vez mais vulgar nas grandes cidades.</p>
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"Terrível drama de solidão. Um homem foi encontrado sem vida, domingo à noite, no seu apartamento de Poissy, literalmente mumificado. O seu falecimento remonta a 2007..." O excerto da notícia do jornal Le Parisien reflecte a estupefacção que se apoderou da sociedade francesa, tal como dos familiares e conterrâneos de José Gomes Macedo, emigrante em França há longas décadas. Natural de Lage, com descendentes em Barbudo, onde reside a sua ex-mulher (com quem ainda continuava casado legalmente) e os quatro filhos, José Gomes Macedo, completava 62 anos na próxima terça-feira, estava reformado da construção civil. Era um homem sem quaisquer laços à família ou amigos de infância, o que justifica a "indiferença" com que foi encarada a ausência de notícias do emigrante, tal como em França, ninguém deu pelo seu desaparecimento.
Em declarações ao jornal parisiense, um vizinho recorda ter alertado o vigia "duas vezes, a propósito do odor que se sentia" no rés-do-chão do número 117, da rua Blanche Castela, bairro de Beuregard. Após terem arrombado uma janela, os bombeiros depararam com um cadáver decomposto, sem possibilidades de ser identificado. Assemelhava-se a uma múmia ou um esqueleto. Os restos do defunto foram conduzidos ao instituto médico-légal de Garches (Hauts-de-Seine), para serem autopsiados. A caixa do correio tinha correspondência por retirar desde 2007 e os bombeiros encontraram no frigorífico um iogurte com data de Novembro de 2007.
"O cidadão português foi identificado através do número de série da prótese auditiva", afirmou, posteriormente, à Lusa, fonte oficial do Consulado-Geral na capital francesa.
Uma das filhas de José Macedo disse ao JN não encontrar explicações "para uma situação destas. Nos tempos de hoje, como é possível estar dois anos sem que ninguém se apercebesse", questionava. A mesma indignação mostrou a sobrinha, Andreia, à porta da casa que José construiu.
De resto, na freguesia de origem, Lage, poucos são os que se lembram do emigrante. "Sei que casou para Barbudo, emigrou e nunca mais voltou", dizia Mário Mesquita, lembrando a chegada daquela família à aldeia, onde se fixaram como caseiros de uma casa de lavoura. Com quatro irmãos (dois homens e duas mulheres), José "nunca manteve laços com a terra", disse Francisco Arantes.