Empresa de calçado Ecco na Feira dispensa 110 trabalhadores até ao final do ano
Cerca de 110 trabalhadores vão ser dispensados pela empresa de calçado Ecco, em Santa Maria da Feira, até ao final do ano. A administração justifica os despedimentos com quebras de 30% no volume de negócios, mas o Bloco de Esquerda (BE) diz que se trata de uma empresa lucrativa que "recebeu milhões de euros do Estado" ao longo dos anos.
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A Ecco vai dispensar cerca de 10% dos 1165 funcionários que trabalham na unidade de São João de Ver, Feira. A informação foi avançada pelo BE e confirmada pela empresa, ao JN.
Moisés Ferreira, deputado do BE, questionou já o Ministério do Trabalho sobre as rescisões, considerando que o Governo "deve intervir nesta situação para garantir os postos de trabalho".
"Estamos a falar em 110 despedimentos, numa altura particularmente delicada que o país vive, com uma crise social e económica por causa da pandemia de covid-19", referiu.
Moisés Ferreira reitera que, neste momento de crise, "em que a maioria dos trabalhadores estão a perder rendimentos", "é necessário proteger e garantir todos os postos de trabalho que existem nas empresas".
Recorda que a empresa de calçado "é lucrativa e recebeu ao longo dos anos milhões de euros de apoios e benefícios do Estado. Esteve também em lay-off simplificado durante a pandemia e um dos pressupostos deste regime é não despedir".
"Esta empresa tem uma obrigação especial para com o país e não deve proceder a despedimentos", acrescentou.
A administração da empresa esclarece que apresentou "um plano de rescisões amigáveis com o objetivo de reduzir, até ao final do ano de 2020, cerca de 10% do número total dos seus colaboradores".
Ressalva que a Ecco Portugal é exclusivamente Produção e Desenvolvimento do Grupo ECCO e, "não engloba a atividade comercial (lojas ECCO), que é gerida por outra empresa do Grupo".
Justifica que o impacto da situação atual nas vendas do Grupo ECCO ainda não é claro, "mas na ECCO Portugal estimamos quebras nas encomendas de aproximadamente 25% e do volume de negócios de 30% em 2020, face ao ano anterior".
"A ECCO Portugal nunca deixou de laborar, trabalhou 3 meses a 50% da sua capacidade, com pessoal em teletrabalho (...) A empresa apenas recorreu ao regime de lay-off simplificado parcial durante 30 dias, assegurando a 100% o salário dos seus colaboradores".
Por último, esclarece que, neste momento, está praticamente reposta a normalidade na laboração, "por forma a completarmos a entrega atempada da coleção Outono / Inverno 2020, mantendo-se a incerteza relativamente à próxima coleção".
"Ninguém está a ser obrigado"
Ao JN, a coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores do Calçado, Fernanda Moreira, confirma os contactos da empresa com os trabalhadores, referindo que, até ao momento, "ninguém está a ser obrigado a rescindir". Contudo, adianta que, se não for atingido o objetivo, a empresa pode "optar por um despedimento coletivo". "Estamos a acompanhar a situação e a dar apoio aos trabalhadores que nos solicitam", afirmou Fernanda Moreira.