Empresa de Castelo Branco muda linhas de produção para a Turquia por falta de mão-de-obra

Multinacional alemã tem transporte para os trabalhadores que moram fora de Castelo Branco
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APTIV, multinacional alemã de cablagem, localizada em Castelo Branco não consegue contratar 200 trabalhadores na área de cabos elétricos para a Maserati e a Ferrari.
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A falta de trabalhadores é a razão invocada pela APTIV, multinacional alemã que produz cablagem para a indústria automóvel, em Castelo Branco, para a deslocalização de duas linhas de produção para outra unidade do grupo na Turquia até junho. As duas linhas de produção fabricam cablagem (cabos elétricos para veículos) para os motores a combustão da Maserati e da Ferrari. Esta supressão coloca um ponto final a uma longa ligação que tinha condições para crescer na APTIV não fosse a dificuldade de contratar.
A maior parte de quase 200 trabalhadores afetos a estas duas linhas ficarão, apurou o JN junto de fonte ligada ao processo, na empresa. "Algumas destas pessoas estão com vínculo temporário. As restantes, e porque a APTIV precisa de mão-de-obra urgentemente, ficarão na empresa e ninguém será despedido", adiantou.
Cerca de uma centena de turcos está há algumas semanas na unidade de Castelo Branco para formação e aprendizagem laboral. Acompanharão a instalação destas duas linhas produtivas na unidade APTIV da Turquia.
Aquela que foi a antiga Delphi Automotive emprega atualmente cerca de 1100 pessoas mas quer chegar até às 1400 até final do ano em Castelo Branco onde é produzida cablagens para os motores elétricos da Maserati, da Ferrari e para o jipe americano INEOS. Para além destes três clientes, a APTIV tem ainda o cliente de tratores John Deear.
O responsável europeu pela APTIV deslocou-se a Castelo Branco no final de 2021. Reuniu com o presidente da Câmara, Leopoldo Rodrigues, e responsáveis do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), no sentido de combater a dificuldade de empregabilidade (problema, aliás, que não afeta no interior só esta empresa) e assegurar o crescimento da empresa na área dos motores elétricos. O risco de saírem duas linhas de produção foi noticiado pelo JN em agosto de 2021. A decisão está tomada.
Não se adaptam
"A fábrica de Castelo Branco recebeu o projeto para testagens que muitas empresas pelo mundo ambicionavam fazer quanto aos cabos para os carros elétricos da Maserati e da Ferrari. Fizeram-se ainda protótipos para o jipe INEOS. É uma grande prova de confiança", frisa a fonte.
"As pessoas ou não passam na entrevista ou não querem trabalhar por turnos ou não se adaptam e vão-se embora", adianta Francisco Matias, representante dos trabalhadores da APTIV e dirigente do Sindicato Nacional da Indústria e Energia. "Fizemos o que estava ao nosso alcance para ajudar as condições de atratividade, conseguindo que os salários se fixassem acima da média da indústria automóvel e que a contratação passasse de seis para 12 meses, o que dá segurança laboral inicial", completa o sindicalista.
"Não acho que a APTIV esteja a definhar", garante o autarca de Castelo Branco. Porém, isso aconteceu com as unidades que fecharam há anos no Linhó, Ponte de Sor e Guarda. Leopoldo Rodrigues diz que está a acompanhar a situação de falta de mão-de-obra "que afeta esta empresa, como outras". "Recebi do diretor europeu da APTIV uma prova de confiança nesta unidade. Por isso, a Câmara vai avançar com um investimento de quase um milhão de euros para melhorar a cobertura e a climatização de um pavilhão, propriedade do município, que eles estão a ocupar. Numa estratégia de atrair empresas e pessoas, aprovámos a devolução de 2, 5 do IRS para 2022, o pagamento no valor de 250 euros de creches, a gratuitidade das refeições da pré-escola e primeiro ciclo para ter continuidade nos restantes anos. E vamos avançar com um plano de habitações a custos controlados", diz.
