A empresa de extração de pedra de Gaspar Borges, vice-presidente do Sporting Clube de Braga, está debaixo de fogo das autoridades policiais e municipais por fortes suspeitas de poluir sucessivamente o rio Ave, em Guimarães.
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A última descarga aconteceu na quinta-feira e originou mais um auto da GNR. Segundo os habitantes de Gondomar, pacata aldeia vimaranense onde o rio foi poluído, a descarga aconteceu pela calada da noite. A população não tem dúvidas em classificar a rajada poluente como "uma das maiores de sempre", adianta Fernando Meireles.
O JN muniu-se da ajuda dos nativos e descobriu que o rio se tinge na zona da Veiga, onde desagua uma papa prateada, composta por pó de pedra e água. Seguindo o rasto do foco poluente, é fácil perceber que o mesmo começa em tubos, que saem do território da empresa Nicolau de Macedo, pedreira de extração de granito administrada por Gaspar Borges.
O terreno junto à empresa está pintado de branco e o "rio" de papa granítica sai dali em conquista de toda a freguesia. Atravessa a estrada nacional, passa por montes e valetas até chegar à zona da Veiga. Para os habitantes de Gondomar, como Fernando Meireles, "não há dúvida de que vem dali". No entanto, a empresa nega. Jorge Costa, diretor da Nicolau de Macedo, diz que "não foi feita nenhuma descarga" e que a empresa "cumpre todos os parâmetros de ecologia". Assume, ainda assim, que os tubos lhe pertencem. E confrontado com os vestígios dos resíduos que estavam nos mesmos tubos à vista de todos, Jorge Costa acredita que "são da água da chuva".
Opinião contrária tem a GNR de Guimarães. Fonte do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente confirma "a instauração de um auto [de notícia] devido a indícios de crime ambiental da empresa Nicolau de Macedo". Quando há denúncia de uma descarga, a GNR vai ao local. Se detetar a origem, é elaborado um auto que segue para a Administração Regional Hidrográfica do Norte. Esta entidade avança com o processo nos tribunais para criminalizar a empresa.
Reincidente
Só para a Nicolau de Macedo, a GNR de Guimarães já elaborou cerca de 20 autos de notícia e decorre um processo criminal na 7.ª secção do Tribunal de Braga na sequência de descargas alegadamente provenientes daquela empresa. O diretor Jorge Costa limita-se a esclarecer que todos "estão a ser contestados".
O presidente da Câmara de Guimarães, autor do plano para a despoluição do Ave, já criticou a nova descarga. Domingos Bragança alerta que as empresas poluentes "são conhecidas" e avisa que, caso o comportamento poluente não se altere, as mesmas "têm de ser encerradas". Elogia, ainda, a "forte consciência ecológica dos vimaranenses" que denunciam estes casos.