Augusto Santos Silva desafiou os participantes a "agirem" e usou o exemplo de Salgueiro Maia e dos jovens que fizeram o 25 de abril.
Corpo do artigo
Está a decorrer, ao longo deste fim de semana, no Pavilhão Multiusos de Guimarães, o 17.º Encontro Nacional de Juventude. Desde sexta-feira ao fim da tarde até domingo, jovens vindos de diversas partes do país são convidados a refletir sobre seis temas com impacto no seu presente e no futuro: educação, igualdade, ambiente, trabalho, habitação e saúde. Na sessão de abertura, o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, e a ministra adjunta e dos assuntos parlamentares, Ana Catarina Mendes, exortaram os jovens à ação.
Augusto Santos Silva usou o exemplo de Salgueiro Maia, que "tinha 30 anos quando fez o 25 de abril". O presidente da AR lembrou que o capitão "partiu da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, desobedecendo a oficiais superiores, cercou o quartel do Carmo e o comandante geral das operações, era um major, pouco mais velho que ele. Em certo sentido, nós devemos a nossa democracia e a nossa liberdade a esta realidade simples: a juventude". Augusto Santos Silva lembrou que os jovens "não devem ser tratados como crianças" e que é deles a maior responsabilidade "porque o seu futuro está em aberto e vai depender em muito do que fizerem". Para Augusto Santos Silva, "há áreas em que os jovens têm a responsabilidade de ser sujeitos" e deu o exemplo da violência no namoro, "uma violência que ocorre entre vocês, é preciso é agir", lembrou.
Matilde Lima, uma estudante de direito lisboeta, de 20 anos, e o seu grupo de debate sobre igualdade estão de acordo com o presidente da Assembleia da República quanto à importância do tema. "Nos casos de violência doméstica e no namoro, a mulher acaba por ser quase sempre a vítima e no acesso que tem aos mecanismos para se defender também há uma grande desigualdade, nomeadamente no apoio psicológico". Matilde Lopes, de 19 anos, estudante de História em Coimbra e membro do Movimento Democrático de Mulheres, também faz parte do mesmo grupo, defendendo que ainda se fala pouco da violência sobre as mulheres. "Os problemas continuam presentes, a prova é continuarmos a falar deles, não houve grandes mudanças", defende.
Desigualdade entre alunos que têm e não têm professor
O grupo quer mudanças. "Queremos ver reduzido o peso dos exames nacionais no acesso ao ensino superior, porque é um grande entrave para certos alunos chegarem à universidade", afirma Guilherme Silva, de 19 anos. Augusto Santos Silva lembra-lhe que os exames são um fator de equidade, mas o grupo não fica convencido. "Este ano houve milhares de alunos que não tiveram professor e, portanto, não tiveram aulas, porém, no final do ano, serão confrontados com o mesmo exame que os outros que tiveram as aulas todas", aponta Guilherme.
Ana Catarina Mendes, no seu discurso, apelou à participação dos jovens na consulta pública que está a decorrer sobre o pacote de medidas para a habitação, outro dos temas em debate. O presidente do Conselho Nacional de Juventude (CNJ), Rui Oliveira, lembrou que o evento encerra o Ano Europeu de Juventude e assinalou a coincidência desta data com o momento em que a guerra na Ucrânia atinge um ano. "Paz sim, guerra não", ecoou a uma só voz no pavilhão, em jeito de palavra de ordem. O presidente do CNJ lembrou à plateia que objetivo fundamental destes encontros é "apresentar aos decisores políticos as sugestões que os jovens têm para o país".