Nas instalações do aeroporto Sá Carneiro são tratadas 13 mil mercadorias por dia. Estafetas sem mãos a medir.
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Chegam e partem para os quatro cantos do Mundo e, em época natalícia, todas as mãos são essenciais para despachar as encomendas que cruzam o céu até ao armazém da DHL, instalado no aeroporto Francisco Sá Carneiro. A pandemia potenciou o comércio eletrónico, aumentando também o volume de encomendas. Entre os clientes, contam-se cada vez mais particulares que, em época de maior recato no lar, apostaram nas compras online. A nível nacional, este mês, a empresa estima um crescimento de cerca de 50% em relação ao mesmo período do ano passado. Aliás, a previsão de uma avalancha de encomendas fez com que o trabalho desta quadra festiva começasse a ser preparado "ainda em pleno verão", explicou a DHL, líder no setor, que se viu obrigada a reforçar a estrutura de recolha e entrega.
"Da perspetiva de comércio eletrónico, podemos dizer que a covid-19 trouxe 2030 a 2020, com as compras online e os consequentes envios como o novo normal", referiu José António Reis, diretor-geral da DHL Express em Portugal.
Dois voos extra
Pelas instalações da empresa junto ao aeroporto Sá Carneiro, nesta época de Natal, passam mais de 13 mil encomendas diárias, entre material rececionado e expedido, o equivalente a cerca de 50 toneladas. As luzes acendem-se cedo. Todas as manhãs, um avião aterra na pista do Sá Carneiro por volta das 7.30 horas. Sai de Leipzig, na Alemanha, com destino a Vitoria, em Espanha. De lá levanta voo rumo ao Porto. Ao final do dia, por norma, partem dois aviões. No entanto, no Natal, face ao volume de encomendas, há dois voos extra por dia. A época imprime uma maior azáfama ao negócio.
Com o avião em terra, caixas e envelopes seguem num tapete rolante até à entrada das 70 carrinhas que os levarão até casa do cliente. Contas feitas, são mais 12 viaturas em circulação face ao ano passado. Consoante o código postal do destinatário final, cabe aos estafetas acomodar as encomendas nas carrinhas.
Há mais de uma década, Fábio Neves é um dos rostos ao volante dos veículos da DHL Express. Percorre as zonas de Leça da Palmeira e da Senhora da Hora, no concelho de Matosinhos. "Notámos que houve um aumento de entregas acima do normal. Temos mais encomendas de particulares", contou o estafeta, de 34 anos.
Ressalvando que o "aumento exponencial dos números do comércio eletrónico não constitui surpresa", uma vez que "a tendência tem vindo a acentuar-se nos últimos anos", José António Reis admite que, com a pandemia, "o volume de envios cresceu de forma mais acelerada".
"A pandemia provocou grandes alterações nos hábitos e comportamentos de compra dos consumidores, que passaram a preferir fazer as suas compras no conforto de casa", referiu o diretor-geral da DHL Express.
Já é quase da casa
No armazém perto do aeroporto Sá Carneiro trabalham diariamente à volta de 150 pessoas. A pandemia obrigou ao uso de máscara e à recorrente higienização. Também no contacto com o destinatário houve algumas mudanças. Ao invés da assinatura, é agora apenas registado o nome de quem recebe a encomenda. Entre os clientes há ainda quem peça ao estafeta, através do intercomunicador, para deixar a encomenda na entrada do prédio ou no elevador.
"Mudou o facto de já não podermos ter aquelas brincadeiras com os clientes que já conhecemos há muito tempo. Isso acabou", descreveu o estafeta. Ao longo do dia, a distribuição faz-se em passo acelerado. Durante as entregas, Fábio Neves vai recebendo os pontos para recolha de encomendas. Quer seja em empresas ou particulares. Entre uns e outros, há clientes que se tornaram amigos. É o caso da empresa Bolloré, em Leça da Palmeira, onde Fábio Neves faz entregas e recolhas regularmente. "O Fábio já é quase da casa", atirou uma das funcionárias.
Na recolha, há cuidados a ter em conta. Caso a encomenda seja de particulares, é feita uma vistoria ao seu conteúdo no local. Depois, no armazém, todas as expedições passam pelo raio-X antes da entrada no avião. "Um envio que suscite dúvidas não vai entrar no avião. A segurança é uma prioridade", afirmou Luís Rodrigues.
O último avião da DHL deixa a pista do Sá Carneiro às 20 horas. Não há margem para atrasos. A rotina repete-se dia após dia.
20 mil toneladas
Em 2019, a DHL Express manuseou cerca de 20 mil toneladas de carga. Este ano, apesar da pandemia, foi registado um crescimento de cerca de 6% em volume. Nos últimos anos, o Norte tem sido responsável por cerca de 60% do volume manuseado pela empresa em Portugal.
Investimento
A DHL Express estima investir 50 milhões de euros em Portugal até 2023. A verba prevê a construção do novo terminal de carga expresso em Lisboa, assim como a expansão dos terminais do Porto e Leiria, e a abertura de mais lojas.
Ganhos de tempo
As atuais instalações da DHL Express no Porto foram inauguradas em 2012. O novo armazém permitiu "ganhos de tempo significativos" através da descarga direta dos contentores para o terminal.
Percurso de uma encomenda
Avião
Durante a época natalícia, o aeroporto Francisco Sá Carneiro, na Maia, recebe dois aviões da DHL Express pela manhã. O primeiro aterra cerca das 7.30 horas. Oriundo de Leipzig, na Alemanha, antes de aterrar no aeroporto internacional do Porto, passa por Vitoria, em Espanha. Ao final do dia, levantam voo três aviões com encomendas. O último parte por volta das 20 horas.
Cápsulas
Com o avião estacionado à porta do armazém, começam os trabalhos de descarregamento das encomendas. No armazém trabalham cerca de 150 pessoas. Algumas, por estarem em contacto direto com a pista do aeroporto durante as operações de carga e descarga dos aviões, recebem formação específica. Nesta altura, passam pelas instalações mais de 13 mil encomendas diárias.
Tapete
Saídas do avião, as encomendas são separadas consoante o código postal e colocadas num tapete rolante que as leva até à entrada das carrinhas. Com cerca de 200 metros de extensão, o tapete tem capacidade para processar entre 2500 a 3000 mil peças por horas. Algumas podem necessitar de ser encaminhadas para uma área intermédia para, por exemplo, serem inspecionadas pela Alfândega.
Carrinhas
Até às empresas ou à casa do cliente, o transporte das encomendas durante a quadra natalícia é feito em 70 carrinhas, mais uma dezena face ao ano passado. Ao longo do dia, os estafetas vão ainda recolhendo as encomendas para expedir. No entanto, há cuidados a ter em conta. Caso a encomenda seja de particulares, é feita uma vistoria ao seu conteúdo. Já no armazém passam ainda pelo raio-X.