Entrudo em Carrazeda de Ansiães: Pai da Fartura rebentou e com ele todos os males do ano
Personagem a quem se atribui a culpa por tudo o que de mau acontece foi julgado e condenado. Tradição encerrou Entrudo em Carrazeda de Ansiães.
Corpo do artigo
O Entrudo de Carrazeda de Ansiães é um dos que fecha a porta das comemorações carnavalescas deste ano. O Pai da Fartura foi a rebentar com grande estrondo, cerca das 22.30 horas, perante centenas de pessoas, já depois de ter sido julgado e condenado junto ao pelourinho.
O Pai da Fartura é transportado numa urna que circula pelas ruas da vila de Carrazeda numa carrinha, já noite cerrada. Pretende-se que todos o vejam como um condenado, carregado de todas as culpas e mais algumas por todos os males da sociedade. Vai rodeado de carpideiras a caminho do local onde ouvirá a sentença.
Na verdade, é o ponto alto de um Entrudo tradicional que começou durante a tarde com um cortejo com mais de duas dezenas de carros alegóricos. Todos com motivos de sátira social, política e económica. Muitas vezes, a forma de os participantes mascarados manifestarem as suas críticas, ao som dos bombos e na presença dos gigantones rodopiantes dos Zíngaros de Carrazeda.
A sentença do Pai da Fartura é composta por um longo conjunto de quadras que o juiz dos Zíngaros, Hernâni Sousa, vai desfiando com os olhos postos na personagem deitada no centro da praça da Fonte das Sereias.
“Temos ali presente o réu, para ele não há clemência, decerto não vai para o céu, acabemos com a sua existência”, começa o juiz. E continua: “Desgraçado Pai da Fartura, ninguém te vai perdoar, para ti não há brandura, vais mesmo ter de rebentar”.
As quadras abordam, não raramente, problemas nacionais: “E sem nadinha saber, mesmo ali na porta do lado, notas foram aparecer, em livros bem guardados”. Mais: “Revoltaram-se os
agricultores, vieram para a estrada, utilizando os tratores e a tropa bem treinada”.
E também há critica local: “Até na água da torneira, que as pessoas vão beber, tu arranjaste maneira, de te deixares corromper”. “Falta gente para a maçã, para a vindima e para a azeitona, só não falta para a marrã, e para os rojões da abalona”.
As atividades do Entrudo de Carrazeda de Ansiães são promovidas pela Câmara Municipal em parceria com a Associação de Zíngaros.
O autarca, João Gonçalves, admite que este Entrudo “atrai cada vez mais pessoas, sobretudo quando o tempo está bom”, como foi o caso deste ano. “Este julgamento e rebentamento são uma forma popular de marcar este dia, que dá início a um período de algumas restrições”, descreve o presidente da Câmara.