<p>O excesso de chuva deste Inverno está a derrubar muros de xisto e patamares dos socalcos de vinha da Região Demarcada do Douro. Os prejuízos ainda não foram avaliados, mas os proprietários sabem que vão ser muito elevados.</p>
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Depois um mês e meio a chover a cântaros, não há palmo de terra que beba mais um gole de água que seja. Toda a que cai escorre e leva o que apanhar à frente. Nas vinhas novas que a empresa Rozès plantou na zona de Tabuaço já há muitos estragos a lamentar. "Pela força das águas foram arrastadas grandes quantidades de terra", explica o administrador António Saraiva, revelando que nas vinhas mais antigas "caíram vários muros".
O responsável explica que nas vinhas novas foram instalados sistemas de drenagem compostos por redes de manilhas, mas "a água tem sido tanta que não dão vazão e até deu cabo de algumas estradas". A abundância de chuva provou a António Saraiva que "a Natureza consegue destruir tudo, mesmo quando se tem a certeza que as coisas estão preparadas" para aguentar qualquer capricho seu. Alega mesmo que tem tido pessoal nas quintas a "fazer de bombeiro", para acudir às ocorrências com a ajuda de uma mini-giratória, máquina preciosa para repor terras e limpar estradas.
Muitos problemas
Paul Symington, da empresa a que empresta o nome de família inglesa, percorreu algumas das suas vinhas no último fim-de-semana e constatou que "há muitos problemas, muitas coisas derrubadas e que é preciso repor". Porém, admite ter um dilema: escolher se serão piores os prejuízos que as chuvas copiosas deste Inverno terão provocado nas vinhas da empresa, ou a seca dos últimos três anos e que teve "efeitos bastante negativos". Apesar de tudo, arrisca: "Prefiro esta chuva do que ter mais um ano de seca", assume.
João Oliveira, da Quinta de Santo António, no Pinhão, admite que tanta água já "é preocupante". Segundo diz, "não é só o muro que cai, é também a terra que arrasta e que deixa a descoberto as raízes das videiras. O que significa quebra de produção". Ora, o viticultor vai ter este ano menor rendimento, pois "qualquer dinheiro que pudesse sobrar para reinvestimento vai ser absorvido para colmatar este tipo de prejuízos e o mais certo é não chegar". Daí que João Oliveira adopte uma frase que diz ser já muito usual: "Ser agricultor no Douro é empobrecer alegremente". Colocar de pé um muro em xisto é caro e, sobretudo, exige mão-de-obra específica que nem sempre se arranja.
Prejuízos
António Saraiva julga que o prejuízo não é tão elevado como repor um patamar numa vinha nova. "Enquanto o derrube do muro arrasta alguma terra ali à beira, no patamar de vinha é preciso levar a terra novamente para cima, o que é extremamente complicado de fazer". João Oliveira pensa o contrário, alegando que "é menos oneroso levantar um muro". Segundo diz, reconstruir um metro quadrado de muro de xisto custa "entre 100 e 120 euros".
O empresário agrícola advoga que, tendo os viticultores de zelar pela preservação dos muros de xisto que caracterizam os vinhedos de uma região que é património mundial, "o Governo devia ser parceiro dos agricultores, colaborando na reconstrução dos muros sempre que eles caiam em circunstâncias como as que agora se verificam".