O projeto de um novo parque eólico, previsto para a região de Arcos de Valdevez e Monção e que terá como epicentro a freguesia serrana de Sistelo, está a gerar contestação. A petição pública, lançada pelo Movimento Cívico em Defesa da Serra da Peneda e do Soajo, reunia 1456 assinaturas este sábado.
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A energia produzida em Arcos de Valdevez visa abastecer polo tecnológico de Sines.
A área de implantação do empreendimento proposto pela empresa Madoqua IPP, com 32 torres e uma subestação, é de 7828 hectares e prevê a instalação de uma linha elétrica de muita alta tensão numa extensão total de cerca de 76 289 hectares. O projeto abrange parte do Parque Nacional da Peneda-Gerês e sobrepõe-se às zonas especiais da Rede Natura 2000 e da Reserva da Biosfera Gerês e Habitats Naturais. Os corredores para ligação do parque às subestações intercetam, ainda, a Zona Especial de Conservação do Rio Lima.
Os corredores de passagem da linha de muita alta tensão atravessarão os concelhos de Arcos de Valdevez, Monção, Melgaço, Ponte da Barca, Vila Verde, Terras do Bouro, Amares, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Montalegre, Braga, Guimarães e Famalicão. A linha conectará à rede elétrica através de uma subestação, cuja localização, apesar de ainda não ter sido definida, incidirá numa de quatro opções: Pedralva, Frades, Alto Lindoso ou Riba d’Ave.
Ruído como um concerto de rock
O projeto está a dar passos com vista ao seu licenciamento, decorrendo a consulta pública do estudo de impacto ambiental até 16 de maio. A elaboração do estudo prévio está numa fase inicial. Depois de licenciada, a obra será executada no prazo de um ano.
Para a FAPAS – Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade, que defende a recusa do licenciamento, “as áreas protegidas ou classificadas – entre elas o único parque nacional do país – devem ser consideradas um valor, um ativo nacional, intocável, quer por razões ambientais quer por razões económicas”. A associação recorda que a área de estudo do empreendimento eólico “tem como centro a emblemática aldeia de Sistelo, classificada em 2017 como Monumento Nacional Paisagem Cultural de Sistelo. Não serão uns quantos milhares de euros pagos pelo aluguer dos terrenos durante 30 anos que justificam, numa perspetiva coletiva, regional e nacional, o licenciamento do projeto”.
O funcionamento dos 32 aerogeradores “pode atingir níveis sonoros de 92 dB(A) a 106.9 dB(A), dependendo da velocidade do vento”, adverte a FAPAS, o que corresponde a níveis de ruído equivalentes “a um concerto de rock”. Cada torre terá uma altura de 112 metros. O empreendimento prevê a criação de uma rede de acessos viários aos aerogeradores.
Afastado de zona sensível para aves de rapina
O objetivo do parque eólico de Arcos de Valdevez é a produção de energia elétrica, que será “introduzida, através da rede elétrica de serviço público, para um futuro polo energético e tecnológico de Sines, a localizar na Zona Industrial e Logística de Sines, onde serão instalados eletrolisadores de alta capacidade e demais instalações industriais, com a qual será produzido hidrogénio e amoníaco verde, para fornecimento tanto à indústria local como a clientes pan-europeus”.
Na proposta em consulta pública, consta que foi realizado um estudo, entre setembro e novembro de 2024, com objetivo de “identificação das principais condicionantes ambientais que pudessem de alguma forma influenciar/restringir a implantação das infraestruturas” do parque e respetiva linha elétrica. E que levou à reconfiguração da proposta, prevendo o “afastamento a zonas muito críticas para aves de rapina, melhor compatibilização com a REN, salvaguarda do domínio hídrico, aumento de distância a aglomerados populacionais e eliminação de recetores a sul da área de estudo”.