Miguel Ferreira da Silva e Hugo Castro conhecem-se desde os bancos de escola e partilham desde sempre a paixão pelos automóveis. No próximo dia 22 arrancam de Nador, em Marrocos, num Mitsubishi Pajero com 30 anos, para mais de cinco mil quilómetros de areia até Lac Rose, na quinta edição do The Real Way to Dakar.
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A prova reúne quase 70 veículos (motos, camiões, jipes e buggy) e tem partida simbólica de Paris, numa recriação do Paris-Dakar original, com chegada prevista para Lac Rose, em Dakar, no Senegal. E foi este voltar às origem que atraiu a dupla de Santa Maria da Feira a quem as grandes distâncias nunca assustaram.
Em 2009, no Mongol Rally, fizeram 17 mil quilómetros ao volante de um Toyota Corolla DX, ligando a cidade italiana de Milão a Ulan Bator, capital da Mongólia. E, pelo meio, seguiram percursos diversos nos desportos motorizados.
Miguel, com 39 anos, jurista, participou no Campeonato Nacional de Montanha, chegando a vencer na classe de carros de Turismo, em 2013. Fez ralis, velocidade e TT (Todo o Terreno) e integrou várias expedições de aventura, como o Braga-Luanda, em 2006, ou o já referido Mongol Rally.
Já Hugo, de 41 anos, engenheiro mecânico, começou aos 15 nas Moto 4, tendo participado em várias provas extra do Campeonato Nacional de Resistência TT. Entre 2006 e 2011, participou no Campeonato Nacional de Rallycross, na classe Kartcross, tendo sido vice-campeão em 2008 e, no ano seguinte a aventura levou-o até à Mongólia.
Para esta prova criaram uma equipa nova, a M-Riders, que se manterá em futuras aventuras. Falando da que está prestes a iniciar-se, Miguel Ferreira da Silva explicou que “a prova foi montada por um dos organizadores do original Paris-Dakar”, procurando manter “a essência, a pureza do rally”.
O original chegou ao fim em 2008, quando a ameaça de um atentado terrorista no Magrebe fez cancelar a prova no momento em que a caravana se preparava para partir de Lisboa.
Mudou-se para a América do Sul, em 2009, e agora para a Arábia Saudita, mas desde logo houve dissidências que fizeram nascer o África Race e este Intercontinental Rally, ou o The Real Way to Dakar (O verdadeiro caminho para Dakar).
Carro com 30 anos
A viatura escolhida pela dupla de Santa Maria da Feira foi um Mitsubishi Pajero, 2.5T GLS, construido em 1994 e que já conta com 260 mil quilómetros.
“É um modelo com grande historial no desporto automóvel, principalmente no Dakar e a antiguidade deve-se ao facto de pretendermos estar inseridos nos Clássicos. E este carro preenchia todos os requisitos que procurávamos para o projeto”, contou Hugo Castro.
O Pajero foi comprado há cerca de um ano e muitas peças, por desgaste ou pela idade do carro, “tiveram de ser substituídas ou revistas”, como a suspensão, proteções ou casquilhos.
“O motor foi aberto por uma questão de precaução e mexemos muito pouco ao nível da potência, pois queremos é fiabilidade. Sabemos que é muito complicado chegar aos lugares cimeiros da classificação, mas temos a fiabilidade a nosso favor e vamos optar por uma condução mais cuidada para compensar a falta de potência que possamos ter, comparativamente com os outros competidores”, referiu Hugo Castro.
O facto de ser um carro mais curto “permite que seja bastante ágil e, como está muito equilibrado, sem extremos a nível de preparação torna-se bastante fácil de nos habituarmos à sua condução”, sublinhou, por seu lado Miguel Ferreira da Silva.
Para o sucesso da aventura a dupla confia em mais duas equipas: a CD4x4, que preparou o Mitsubishi; e a Raid Assist, que vai assegurar a assistência durante a prova.
Importante será, igualmente, a UCO Trading, a empresa que vai fornecer biocombustível ao Pajero pois “é importante que o desporto automóvel se adapte às questões ambientais”.
Navegação
Apesar do passado desportivo de ambos, Miguel Ferreira da Silva e Hugo Castro sublinham que esta vai ser “uma experiência nova para qualquer um de nós, mesmo na componente da navegação
“Não é um tipo de navegação a que estejamos habituados, pois funciona por checkpoints, que em Portugal não é possível treinar. Já percorremos, em ensaios, zonas aqui de areia na zona de Leiria, só que não conseguimos fazer uma navegação como a do deserto, que é aberta. Aqui temos sempre trilhos, casas, árvores, etc”, sublinhou Miguel Ferreira da Silva.
O Pajero segue, este sábado, de transportadora para Paris, cidade onde a equipa chegará na quarta-feira.
No dia seguinte seguem já em prova, mas em ligação (até Nador. cidade portuária do nordeste de Marrocos. No sábado decorrem as verificações técnicas e a prova cronometrada começa no dia 22, terminando no dia 3 de fevereiro. O regresso do Pajero a Santa Maria da Feira será feito por estrada, perfazendo cerca de 15 mil quilómetros.