"Eram mais chefes que índios": Menezes reorganiza empresa Águas de Gaia

Câmara de Gaia cancelou contrato "ruinoso" da recolha de lixo
Foto: Maria João Gala/Arquivo
A Câmara de Vila Nova de Gaia cancelou na segunda-feira o contrato "ruinoso" da recolha de resíduos sólidos urbanos e, "em 48 horas", reorganizou o organigrama da empresa Águas de Gaia, passando "de 40 chefes para quatro ou cinco".
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"Eram mais chefes que índios. Bom, em 48 horas passámos de 40 chefes para quatro ou cinco, isso significa, por um lado, contenção de custos, mas também mais eficiência na gestão", afirmou o presidente da autarquia, que convidou Poças Martins, no âmbito de um contrato de consultadoria de um ano, para reforçar a administração, liderada por Fernando Barbosa, na elaboração de um projeto de reabilitação da empresa e colocá-la, de novo, como "a melhor empresa municipal do país".
Luís Filipe Menezes falava aos jornalistas no final de um conferência de imprensa destinada a dar a conhecer o levantamento realizado na Águas de Gaia, nomeadamente ao nível da situação financeira, que o autarca disse ser "má".
"Quando a empresa vive de um subsídio anual da câmara de oito milhões de euros e tem passivo financeiro bancário de perto de 30 milhões, não pode estar a fazer sedes novas de 12 milhões de euros e, ao mesmo tempo, ter os trabalhadores mais humildes em contentores espalhados pelo concelho, como em Vilar de Andorinho e Avintes", disse o autarca.
Menezes, que regressou à Câmara de Gaia, depois de vencer as últimas eleições autárquicas pelo PSD, salientou que, "talvez daqui a pouco tempo, dois, três meses no máximo, haja condições para caminhar no sentido de poupanças".
"Quando estivermos em condições de lançar um novo concurso para a recolha de resíduos sólidos urbanos, talvez possamos dar uma indicação de podermos caminhar no sentido de poupanças, para mudarmos a filosofia de toda a gestão", salientou o autarca, sem querer comprometer-se com um prazo para a eventual descida dos preços praticados atualmente pela Águas de Gaia.
"Aumento exponencial nos gastos"
Menezes lembrou que, no seu anterior mandato, antes de ser substituído em 2013 por Eduardo Vítor Rodrigues, do PS, a empresa municipal encontrava-se "muito equilibrada e lucrativa, fazendo, até, obras que transcendiam o tradicional de uma empresa de águas", como estradas e passadiços.
Fazendo a comparação com a empresa que deixou e a que agora voltou a assumir, o autarca disse que atualmente a empresa que, no seu mandato, "dava lucro passou a depender, na sua existência, de um subsídio anual da câmara".
"Por outro lado, as tarifas são muito altas e está demonstrado que vai ter que se fazer um enorme esforço para as conseguir baixar", afirmou.
Há, segundo o autarca "um aumento exponencial nos gastos desde 2020 até 2025. Em cinco ou seis anos, daquilo que se paga aos prestadores de serviços à câmara, à SUMA, à SULDOURO, à SIMDOURO [empresas de gestão, tratamento e valorização de resíduos, limpeza urbana e gestão de saneamento], tiveram aumentos que chegam a atingir os 350%".
"Isso tem que ter uma explicação. Se esses aumentos não tivessem existido e os milhões de euros que se pagam a essas três instituições que são, digamos, instituições externas a quem se pagam serviços, se calhar as taxas que os gaienses estariam a pagar, quer de água, quer de saneamento, quer de resíduos de sólidos urbanos, seriam muito menores", considerou.
O autarca social-democrata disse ficar "espantado que ninguém fique indignado quando se lança um concurso de 510 milhões de euros, que ia custar 50 milhões de euros por ano, e que ia obrigar os gaienses a pagar, porventura, 150 ou 200 ou 250 euros por mês de resíduos".
"Nós temos técnicos reputados do país que já analisaram este concurso e dizem que aqueles serviços que ali são encomendados não custariam mais do que 20 a 22 milhões de euros", garantiu.
"Eu acredito no milagre do engenheiro Poças Martins [que apelidou de Cristino Ronaldo nestas questões] e na possibilidade de, em alguns meses, poder começar a dar boas notícias", frisou.
Também em declarações aos jornalistas, Poças Martins, que apresenta um longo currículo na área da gestão das águas, saneamento e ambiente, explicou que o que será feito nos próximos tempos "já está perfeitamente definido".
"Os custos vão ser reduzidos, vamos rever a situação da sede, portanto, vamos prestar o serviço de melhor qualidade, a custos muito mais baixos, vamos acabar com a 'mesada' e vamos procurar baixar as tarifas logo que possível", afirmou.
Em relação aos trabalhadores, por exemplo, "vamos procurar, com aquilo que poupamos, melhorar a sua situação, já que são eles que dão o litro no terreno a resolver as coisas e são os que ganham menos".
