A falta de abastecimento de comida e outras mercadorias na Ilha das Flores, nos Açores, está a preocupar habitantes e empresários. Os supermercados têm várias prateleiras vazias e faltam muitos géneros alimentícios. A situação, que se verifica regularmente desde que o porto foi danificado por uma tempestade em 2019, tem-se agravado nos últimos três meses.
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Um navio com 105 contentores, que estava a tentar atracar desde o início da semana, conseguiu fazê-lo em segurança no porto esta sexta-feira, dia em que o Governo Regional anunciou um investimento de quatro milhões para transporte de mercadorias
"Não há um litro de leite, iogurtes, frutas. Mais de 50% das referências alimentares estão em rutura", lamenta ao JN Arlindo Lourenço, proprietário de uma cadeia de supermercados na ilha. Segundo o empresário, a última descarga de mercadoria nas Flores foi a 4 de fevereiro, sendo que o navio em vias de atracar esta sexta-feira está a fazer tentativas desde o início da semana. "Os navios têm dificuldade em atracar por causa das condições climatéricas. Tem sido uma catástrofe completa", revela.
A demora dos navios em atracar leva a que muitos alimentos já não cheguem à ilha em boas condições. "Alguns alimentos mal são descarregados vão logo para o lixo", conta Arlindo Lourenço.
Os problemas com o abastecimento começaram em outubro de 2019, quando o furacão Lorenzo destruiu o molhe do porto da ilha. Desde aí que o porto está em obras, estando a conclusão prevista apenas para 2028. "Na altura, o abastecimento foi conseguido com barcos mais pequenos. Entretanto foram contratados outros navios, como o Malena e o Margareth, mas há três meses a tempestade Efrain destruiu parte da proteção do cais.
"O Governo Regional contratou de volta o navio Margareth, com quem já tinha rescindido contrato, mas tem tido muitos problemas em atracar", descreve a vice-presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz das Flores, Elisabete Nóia, apontando para a "grande apreensão da população perante a constante falta de alimentos".
Quatro milhões para transporte
Perante estas dificuldades, o Governo Regional dos Açores vai investir quatro milhões de euros nos próximos cinco anos para um contrato de transporte marítimo de mercadorias entre as ilhas do Faial, Flores e Corvo.
"Uma vez que a data prevista para a conclusão das obras de reabilitação do porto das Lajes das Flores é apenas em 2028, altura em que estarão reunidas todas as condições para a atracagem dos navios de tráfego local, o respetivo abrigo e pernoita com as condições de segurança necessárias para o efeito, urge garantir a continuidade do serviço de transporte marítimo regular de mercadorias às ilhas das Flores e Corvo", lê-se num comunicado do Governo Regional.
Contactada pelo JN, fonte do Governo Regional dos Açores aponta que os bens de primeira necessidade têm chegado à ilha por outros meios, como por via aérea ou através de barcos mais pequenos. "O navio que atracou esta sexta-feira não tinha bens de primeira necessidade, mas também importantes para a vida e economia da ilha. Esperamos que seja retomada a normalidade", completa a mesma fonte.