A descoberta das ossadas de 13 soldados franceses que integraram as invasões napoleónicas de há 200 anos está a animar os arqueólogos, que nos últimos anos não tem tido falta de trabalho, devido aos muitos projetos de requalificação urbana realizados no Porto.
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As escavações são obrigatórias sempre que um edifício entra em obra, mas nem sempre as prospeções têm resultados animadores.
Os materiais encontrados não passam na maioria dos casos de peças de cerâmica ou metálicas e nem sempre antigas, devido ao facto de a cidade ter estado em constante transformação e ampliação ao longo dos séculos. "Até hoje, tínhamos encontrado essencialmente fundações de edifícios anteriores às atuais construções ou então vestígios de antigas unidades industriais, muitas vezes com fornos e restos de chaminés", conta Nuno Gomes, arqueólogo da empresa Civitas, responsável pelo achado dos esqueletos dos militares em contexto de obra, na Rua de S. Miguel.
"Num trabalho realizado na Rua Escura, por exemplo, encontrámos uma fábrica de açúcar que ali terá operado durante o século XIX", revela Nuno Gomes. Os vestígios, sobretudo da era industrial, são os mais vulgares nas escavações. Ainda recentemente, na construção de um hipermercado no Campo de 24 de Agosto, foram encontrados os restos de uma antiga fábrica de tabaco. "Há de tudo e muito do século XX. Até uma cadeira de rodas enterrada já encontramos", acrescenta o arqueólogo.
Ossos, chapa e botões
Na Rua de S. Miguel, os 13 soldados estavam juntos. Terão sido mortos durante a Batalha do Porto, travada no dia 29 de Março de 1809, durante a Segunda Invasão Francesa. "O mais curioso desta descoberta está no facto de os soldados pertencerem a uma companhia que até hoje se desconhecia ter estado aqui", conta João Silva, outro arqueólogo do grupo coordenado por Hermínio Lamego e do qual faz parte ainda a antropóloga Zélia Rodrigues.
Os militares, encontrados nas traseiras do Mosteiro de S. Bento da Vitória, que na altura serviu de hospital de campanha, terão vindo com o corpo do exército de Soult e, apesar de inimigos, não foram lançados para uma vala comum, mas depositados juntos. Com as ossadas foram encontrados botões e uma chapa de barretina usada pela 76éme Régiment de Ligne (Infantaria de Linha francesa do período napoleónico) da qual não existiam registos. Estavam a escassos 40/50 centímetros de profundidade.
De acordo com Zélia Rodrigues "eram jovens saudáveis e bem constituídos" e terão sucumbido em cenário de batalha.
Património
Escavações
São obrigatórias em qualquer intervenção de requalificação do edificado na zona de proteção. As descobertas ficam guardadas no Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto.
Achados visitáveis
Prospeções realizadas nas últimas semanas, numa obra junto ao Cais de Gaia, deixaram visível um conjunto de estruturas do período romano. No Porto, uma das descobertas arqueológicas visitáveis é a Arca de Mijavelhas, um reservatório de água construído no século XVI, situado no então Campo de Mijavelhas, atual Campo 24 de Agosto, e que está exposta na estação subterrânea do metro.