O aumento de casos entre crianças no Algarve e a maior facilidade de contágio podem estar relacionados com a variante britânica do novo coronavírus, admitiu, esta segunda-feira, a delegada regional de saúde, Ana Cristina Guerreiro. A variante representa 94% dos casos identificados na região, que tem 13 surtos em creches, jardins de infância e escolas e 42 turmas em isolamento profilático.
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"Notámos que, nesta fase, a partir de 15 de março, quando as crianças voltaram à escola, havia um número maior de crianças positivas do que teria havido em situações anteriores. Imputamos esse facto a uma possibilidade de o vírus ter realmente mudado qualquer coisa e, portanto, ter uma maior apetência por grupos etários mais novos", explicou Ana Cristina Guerreiro.
"Temos exemplos de crianças positivas que conseguiram fazer mais de 20 casos secundários, ou seja, transmitir dentro da própria sala e às suas famílias conseguindo fazer números grandes de casos secundários", acrescentou. "Há também mais crianças que, além de testarem positivo, "apresentam sintomas leves, como diarreia, tosse e rinorreia". "São sintomas leves, mas esse aumento verifica-se", sublinhou.
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Desde a reabertura das escolas foram identificados 101 casos de covid-19 em estabelecimentos de ensino, entre alunos e funcionários. Há 42 turmas em isolamento e duas escolas encerradas devido um surto na freguesia de Montenegro, em Faro, que terá tido origem em festas de aniversário.
Para Ana Cristina Guerreiro, a variante britânica do novo coronavírus poderá ter um papel predominante nestes resultados. "A presença da variante do Reino Unido a nível nacional representa 82,9% e, no Algarve, representa 94%, o que pode também explicar algumas das situações aqui na região".
O presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve também atribuiu à variante britânica "o principal motivo" para a situação na região. "É, de certa maneira, quase como uma nova doença relativamente àquilo a que estávamos habituados nos meses anteriores. Ainda é difícil dizer se atinge faixas etárias mais novas, mas estamos a ver que temos doentes mais jovens", explicou Paulo Morgado.
Questionada pelos jornalistas sobre a hipótese de esta variante estar relacionada com uma maior incidência do vírus entre os mais jovens, Ana Cristina Guerreiro explicou que "não é fácil" estabelecer essa relação. "Temos essa intuição, parece-nos que sim, mas terão de ser os investigadores a confirmá-lo", frisou, acrescentando que são enviadas amostras para análise no Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.
Os concelhos mais afetados no Algarve são os de Portimão com uma taxa de incidência de 362 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias e Albufeira, com 241 casos por 100 mil habitantes no mesmo período, seguidos de Lagoa, Olhão e Faro.
Em Portimão foram realizados mais de cinco mil testes nas últimas semanas numa operação de testagem em massa após um surto no setor da construção civil, que originou 153 casos e outro relacionado com uma padaria, com 62 casos.
O índice de transmissibilidade na região é de 1,05, o que representa uma desaceleração face às últimas semanas em que atingiu um Rt de 1,19.