Os escritórios da Savannah Resources, em Carreira da Lebre, Boticas, foram vandalizados por "pessoas solidárias com a população” do Barroso". Foi o segundo ataque em dois meses a escritórios da empresa de extração mineira, que tem um projeto de mineração de lítio em Covas do Barroso.
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O grupo danificou veículos da empresa britânica, pintou a fachada de vermelho e escreveu a frase "Não à Mina", lê-se num email enviado às redações pelos alegados autores. "Esta ação vem como resposta a um projeto que procura explorar as reservas de lítio da região e lucrar com a destruição das Serras do Barroso, das quais as populações locais dependem", acrescenta o texto.
O texto do grupo solidário com o Barroso recorda que o projeto teve sempre uma forte oposição "dos residentes e de várias associações e organizações ambientais que alertam para os riscos ambientais e sociais inerentes à mina", prevista para arrancar em 2027. "Ao longo do processo, esta empresa adotou uma postura autoritária de atropelo das vontades locais, como se pode verificar pelas duas servidões administrativas que pediram, para aceder à força a terrenos, já que não conseguem a permissão dos proprietários para entrar neles. A Savannah Resources mostra assim que só à força e contra a população poderá avançar com o projeto", dizem.
Empresa fala em "radicalização de uma minoria"
Em resposta enviada por escrito ao JN, a Savannah disse que os sistemas de segurança "permitiram a recolha de imagens nítidas do ato criminoso" e que as mesmas foram entregues ao Núcleo de Investigação Criminal da Guarda Nacional Republicana (GNR), para ajudar a identificar os responsáveis o mais breve possível e recorda um outro caso, que ocorrido a 3 de abril. "Tal como no caso anterior em que já foram constituídos arguidos, acreditamos na atuação firme da justiça", acrescentou.
A Savannah diz que a "radicalização de uma minoria, cada vez mais isolada, era infelizmente previsível, sobretudo à medida que o projeto avança" e que "a grande maioria da população não se revê nestas ações", que qualificou de criminosas. "Os indivíduos que se vangloriam de atos de vandalismo não são ativistas, são criminosos. Estes comportamentos violentos e intimidatórios nada têm a ver com o legítimo direito à opinião ou ao protesto", acrescenta o comunicado.
Escalada da resistência
As alegados autores do ataque recordam, no texto, que a população "tem usado todas as ferramentas ao seu dispor para lutar contra" a mina. Recordam os encontros, os protestos as audiências com representantes políticos e o recurso aos tribunais contra a prospeção e exploração da empresa. "Todos estes esforços têm sido em vão. É por isso que, em solidariedade com a população barrosã, decidimos recorrer a outro meio", lê-se no comunicado.
"Consideramos este ato de violência legítimo, proporcional e provocado pela falta de alternativas", adiantam, acusando a Savannah de "violência constante" sobre a população. "Escalamos a resistência porque reconhecemos que os meios que os habitantes locais têm, com esforço, empregado, se estão a esgotar. Se tudo o que a Savannah Resources pretende é lucrar com a destruição de ecossistemas e comunidades, deixando-nos a todos mais pobres, cá estaremos para resistir", acrescenta o texto.
"Estes indivíduos não falam em nome das comunidades locais nem as representam. Pelo contrário, prejudicam a imagem de uma região de gente trabalhadora e hospitaleira", disse a empresa, em comunicado. "Reiteramos que estes atos de vandalismo não nos afastam do nosso compromisso. Os trabalhos das equipas da Savannah continuam a decorrer com total normalidade", acrescentou.