Uma bióloga, especialista na bactéria Legionella, afirmou esta terça-feira que os surtos de legionela que surgiram em Caminha e nas localidades vizinhas de A Guarda e O Rosal na Galiza, que apenas se encontram separadas pelo rio Minho, podem eventualmente estar relacionados.
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Ana Carmen Aguirre, que trabalha numa empresa de controlo ambiental (Rentokil), explicou, em entrevista à rádio Cadena SER, que se o foco de contaminação for ambiental e tiver origem no exterior, os aerossóis responsáveis pela infecção em humanos através da respiração podem ser transportados pelo ar “até dois quilómetros” de distância.
Considerou também que a transmissão também pode ocorrer, por exemplo, se as pessoas infetadas frequentarem algum equipamento desportivo na margem oposta e tomado duche a seguir, dada a proximidade das localidades.
No concelho de Caminha, foram detetados sete casos de legionela, o primeiro dos quais no passado dia 10 de novembro. Tratam-se de pessoas com idades entre 54 e 97 anos, e residentes em freguesias dispersas: Vila Praia de Âncora, Vilarelho e Moledo. Até agora não é conhecida a origem do surto.
Entretanto, do lado de lá do rio, mesmo em frente a Caminha, em A Guarda e no município continuo de O Rosal, surgiram praticamente em simultâneo nove casos. Tratam-se, segundo a rádio Cadena SER, de pessoas com idades acima dos 65 anos, das quais seis ainda se encontram hospitalizadas, uma delas em Cuidados intensivos. Também na margem galega se desconhece por agora a origem do surto. As autoridades de saúde continuam no terreno a investigar.
“O contágio entre pessoas é impossível. Nesse aspecto estamos tranquilos. Mas os aerossóis podem ser transportados, desde que o foco seja um foco ambiental, que esteja situado no exterior”, explicou a especialista Ana Carmen Aguirre. “Por exemplo, uma torre de refrigeração de uma indústria, de uma central térmica ou de um centro comercial que tenha uma torre grande que esteja a emanar aerossóis contaminados, que são transportados pelo ar. Se tivermos rajadas, o aerossol pode deslocar-se até dois quilómetros, isso está comprovado”. E acrescentou: “Pode ser também que as pessoas [infetadas em A Guarda e O Rosal] frequentem o mesmo lugar. Por exemplo, um polidesportivo ou algum tipo de atividade em que tomem duche a seguir. Como as localidades [portuguesas e galegas] estão muito próximas, pode dar-se esse caso, mas não sei porque não possuo dados”.
Ana Carmen Aguirre comentou ainda que, dado que hoje terminam os dez dias de incubação da bactéria, pode considerar-se que o surto está controlado naquelas localidades da Galiza. “Se em dez dias não há nenhum caso novo quer dizer que já passou o período de incubação e que foi ‘atajado’ (interrompido o processo) o foco, a fonte que estava a emanar aerossóis”, sublinhou.
A bióloga garantiu que a contaminação não acontece por ingestão de água potável, mas sim através da inalação de aerossóis contaminados. Recomendou, tal como o está a fazer também a Junta da Galiza, que a população limpe torneiras e duches, e mantenha a temperatura da água no termoacumulador acima dos 60 graus.