Família de Castro Marim solicitou transporte depois do pedido do médico do centro de saúde ter falhado.
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Um homem, de 60 anos, morreu seis horas depois de ter dado entrada no Serviço de Urgência Básica (SUB) de Vila Real de Santo António, no Algarve, enquanto esperava pela transferência para o hospital. A família acabou por chamar uma ambulância, mas quando o INEM chegou já era tarde demais. José Pedro Gomes entrou em paragem cardiorrespiratória e não resistiu.
Os familiares apresentaram queixa no Ministério Público e no Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) está a averiguar o caso internamente.
José Pedro Gomes deslocou-se, no dia 11, ao Centro de Saúde de Castro Marim, com tosse e dores abdominais. Segundo familiares, fez teste à covid-19, com resultado negativo. Ainda nesta unidade, o estado de saúde de José agravou-se, tendo sido detetados elevados níveis de açúcar no sangue. Acabou transferido pelo INEM para o SUB de Vila Real de Santo António, onde deu entrada pouco depois das 12 horas.
Mas o quadro continuou a agravar-se, perante o desespero e impotência do filho e da mulher da vítima, que o acompanhavam. "Estava com níveis de tensão arterial muito próximos, as dores abdominais aumentavam, tinha dificuldades em respirar e não urinava", explicou o filho, Pedro Gomes.
Sem sinais de socorro
"Fui várias vezes ao pé do médico pedir-lhe que fizesse mais alguma coisa. Disse que o meu marido estava a ficar com uma pneumonia e ia fazer exames e que já tinha acionado o transporte para Faro", acrescentou Maria Gomes, mulher de José.
Sem sinais da ambulância, e com sucessivas respostas de que deveriam aguardar, Pedro ligou para o 112, por volta das 17 horas. "Quando vi que realmente se passava alguma coisa de errado, decidi ligar para o INEM, que levou oito minutos a chegar", contou. À chegada deste meio de socorro, José estava já em paragem cardiorrespiratória. Foram feitas tentativas de reanimação, mas o homem acabou por morrer, sem nunca ser transportado para o hospital, em Faro.
Pedro lamenta ter acreditado no médico. "Estava numa unidade de saúde e tive de acreditar no profissional de saúde. Nunca pensei que o meu pai iria sair de lá dentro de um caixão". Reformado da Guarda Fiscal, José "era uma pessoa ativa, que se levantava de manhã cedo e se deitava tarde". "A longa espera tirou-lhe qualquer hipótese de sobreviver", acredita o filho.
O CHUA não comenta o caso, mas assegura que "a situação está a ser esclarecida internamente pela hierarquia clínica junto dos serviços envolvidos".