“Está tudo bem encaminhado” para o Lanço da Cruz ser Património Imaterial Nacional
Os bombos do lado português e gaitas de foles do lado galego voltaram, esta segunda-feira, a anunciar, em ambiente festivo, mais uma travessia do rio Minho, dos compassos pascais de Cristelo Covo, Valença, e Sobrada, Tomiño, um rito candidato a Património Imaterial Nacional.
Corpo do artigo
O pároco local, Eugénio Silva, não tem dúvidas que tem todas as condições para ser considerado. Já José Manuel Carpinteira, presidente da câmara de Valença, avançou com a candidatura do Lanço da Cruz a Património Imaterial Nacional, em parceria com a União de Freguesias de Valença, Cristelo Cova e Arão, e a paróquia orientada por Eugénio Silva, acredita que “está tudo bem encaminhado” para o sucesso. “Acho que vão dar parecer favorável”, disse ao JN.
Este ano, o Lanço da Cruz cumpriu-se novamente como manda a tradição, envolvendo embarcações de pesca dos dois lados da fronteira, mas, pela primeira vez, sob observação de uma equipa da Direção Geral do Património Cultural. “Que vejam. Isto é único e está à vista”, declarou o padre Eugénio Silva, antes de embarcar ao encontro do pároco de Tomiño, a meio do rio Minho, para celebrar a Páscoa.
Entusiasmado, o sacerdote de Cristelo Covo, Valença, enquanto se preparava para descer ao cais de Cristelo Covo, já inundado de gente, afirmou que o tradicional compasso transfronteiriço “merece” a classificação. “Sou suspeito para falar nisto. Não sou de cá, mas a primeira experiência que tive há dez anos com este Lanço da Cruz, e isto é único. São dois povos, línguas diferentes, mas há algo que une. Nem a água separa ninguém”, defendeu, sublinhado que o ritual partilhado pelas comunidades portuguesa e galega, “não se pode perder, também pela história que isto tem”.
“É um ato da liberalização de fronteiras, segundo o que ouvi dizer, era um dia livre para as pessoas irem buscar o que quisessem de um lado e de outro. Portanto não havia controle fiscal, nem de fronteiras, no tempo do contrabando”, contou, referindo que a celebração surgiu “num contexto religioso, da Páscoa”, em que “a comunidade popular ia pedir a benção dos pescadores para que tenham bom sucesso na pesca - hoje ainda há alguns que vivem só da pesca-, e nesse sentido houve união e coligaram os dois lados”.
A tradicional procissão naval atrai centenas de pessoas às margens do rio Minho, na tarde de segunda-feira de Páscoa. Principalmente do lado português, no parque junto ao Santuário da Senhora da Cabeça, onde a festa se desenrola para lá do compasso. Após cruzar-se com o pároco português, a meio do rio, cada um na sua embarcação, o padre galego ruma até à margem para dar a cruz a beijar aos portugueses.