Vereador Pedro Baganha, da Câmara do Porto, diz que a decisão sobre o equipamento em Arca d"Água será tomada por quem suceder a Rui Moreira, no próximo mandato autárquico.
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Já lá vão mais de duas décadas e nada mudou: aquele que era para ser o novo estádio do Salgueiros, em Arca d"Água, no Porto, junto à VCI, continua a ser um sonho adiado. As primeiras escavações, no começo deste milénio, fizeram nascer no local um grande lago, que se mantém e, em tempos, até foi aproveitado para a pesca. Hoje está murado.
Pedro Baganha, vereador do Urbanismo, reitera que "o terreno está parcialmente destinado a um equipamento desportivo", conforme consta no Plano Diretor Municipal, mas antecipa que "não será para concretizar neste mandato autárquico". Ou seja, a obra, a avançar, só acontecerá com quem suceder a Rui Moreira, que cumpre o último mandato e não pode recandidatar-se. Haverá eleições em 2025.
O vereador adianta que "nos estudos urbanísticos está desenhado o futuro estádio, que não terá 30 mil lugares como foi previsto de início, mas uma bancada para cinco mil". Porque não arranca? "O terreno é privado. Há questões a serem dirimidas por particulares, que ainda não se entenderam. Quando vier a ser da Câmara, será construído ali o equipamento. Haverá uma operação urbanística, que ainda não sabemos qual é. Por contrapartida [o privado] entregará à Câmara o terreno necessário para construir", explica.
"Vão surgir edifícios"
Pedro Baganha diz que disponibilizar o estádio para o Salgueiros é uma "obrigação histórica", na medida em que o F. C. Porto e o Boavista já estão servidos. "Não é por acaso que o Salgueiros está a jogar num campo da Câmara, na Alameda de Cartes, no Cerco", lembra, para sustentar a ligação do clube à cidade. Sobre quem assumirá o investimento, refere ser prematuro abordar esse ponto: "É cedo para dizer. Depende... Tem de se fazer umas contas... Ver qual é a contrapartida que o particular tem de dar ao Município para a operação urbanística. Pode haver interesse em ser o particular a construir [o estádio] e entregar à Câmara ou entregar só o terreno e a Câmara construir".
Em 2017, deu entrada um Pedido de Informação Prévia (PIP) para construção de habitação, que foi indeferido em março de 2021.
Mais cedo do que o campo de futebol avançará um loteamento para habitação no quarteirão, mas fora da zona do equipamento desportivo: "Há um loteamento aprovado e que está a ser reformulado. Vão surgir edifícios [Rua de Monsanto], que nada têm a ver com a operação urbanística do estádio".
Em Paranhos, entre os moradores, muitos deles salgueiristas, reina a descrença que algum dia o "salgueiral" venha ter em Arca d"Água o seu novo estádio, após o desaparecimento do velhinho Vidal Pinheiro, a antiga casa.
António Anes, de 85 anos, já é muito vivido e diz que não vai em "estórias". Para este portuense de gema, o terreno "irá continuar assim", com obra inacabada. "Nunca mais se fará ali nada", prevê.
Alvarinho Ferreira foi jogador do clube. Vestiu a camisola encarnada nos escalões jovens e continua a sentir o emblema, embora hoje mais à distância. Considera "uma pena" a situação em que a coletividade caiu e não acredita que alguma vez a empreitada seja retomada. Ao lado, para desanuviar o ambiente, um amigo adverte que "ao menos a pesca está salvaguardada", numa alusão ao lago. Precisamente por haver "água em abundância", José Simões, morador e engenheiro, defende que a "construção é inviável".