Os cerca de 250 trabalhadores da fábrica espanhola Cablerías, em Valença, que está em processo de insolvência, estão em contagem decrescente para o eventual encerramento no final do mês.
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A cinco dias da assembleia de credores que vai decidir o futuro da empresa, no dia 21 de janeiro, no Tribunal de Viana do Castelo (10 horas), os operários dizem-se abandonados e já nada esperam. Esta sexta-feira de manhã, o Bloco de Esquerda (BE) realizou uma ação de solidariedade à porta da fábrica, liderada pela coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua.
“Estamos abandonadas totalmente. Tinha aqui uma filha a trabalhar e já foi embora. A insolvência foi uma surpresa e agora vamos ver. Eu vou para casa. Trabalho aqui há 11 anos e agora vou para casa assim de uma hora para a outra”, chorava, esta setxa-feira, Cristina Brito, à porta da fábrica, de onde conta ser despedida, acrescentando que, antes disso, faz questão de participar, tal como outras trabalhadoras, na assembleia de credores.
Tal como a colega, Lisabela Fonseca também está na expectativa do encerramento da unidade de produção de cablagens e sistemas de distribuição elétrica e eletrónica para o setor automóvel, que entrou em insolvência no final de 2024. “A expectativa é o fecho, porque a dívida que a empresa tem é muito grande. São milhões. E não sei o que é que passou, porque tinha muito trabalho e de um momento para o outro, isto aconteceu. Insolvência”, disse a trabalhadora, referindo que “foi uma surpresa. Não estávamos à espera. Ainda temos encomendas e aconteceu isto, assim, de um momento para o outro”.
Segundo Lisabela Fonseca, a fábrica onde trabalha há uma década, está a laborar com operadores de trabalho temporário, contratados propositadamente para concluir encomendas de clientes que estão a pagar a matéria-prima. “Os da empresa estão abandonados dentro da fábrica. Estamos a ocupar lugares de falhas e faltas”, contou, indicando ainda que os operários não têm qualquer informação dos administradores do grupo espanhol. “O que sabemos é por portas travessas”, afirmou, lembrando: “Aqui há famílias, mães, filhos a trabalhar na fábrica. É uma situação lamentável. Principalmente aqui na zona Norte, onde o setor do ramo automóvel está muito mal".
Mariana Mortágua, que falou com trabalhadores na troca de turno, entre as 13.30 e as 14 horas, destacou que a Cablerías se trata de “um caso particular, porque a fábrica tem clientes”. “Sabemos que o setor automóvel está a enfrentar dificuldades, mas esta fábrica está a produzir, tem clientes, e até aumentou um turno para poder responder a todas as necessidades dos clientes e ainda assim vai fechar deixando centenas de pessoas sem trabalho”, declarou, referindo que a unidade da Cablerías “não é a única” à beira do encerramento. “Há uma vaga ainda meio silenciosa de despedimentos no país sobretudo nos setores têxtil e automóvel, que representam uma parte importante da nossa indústria em importantes partes do território, Norte, Vale do Ave e por aí adiante”, declarou, concluindo: “preocupa-nos esta situação por causa dos trabalhadores e por causa da economia”. E concluiu, com um repto: “um plano de emergência para esta zona e para as empresas que estão a fechar”.