Aos 12 anos, "por birra", João Carlos Cunha decidiu ir trabalhar para a construção civil: "Queria ganhar dinheiro e os meus pais não mo podiam dar". Não parou mais. Aos 13 entrou numa das estamparias que existiam na vila de Joane, Famalicão. Aí ganhou a tarimba que lhe permitiu, aos 25 anos, montar a sua própria empresa. "Era eu e mais três trabalhadores". Hoje, administra a Jocolor, uma das mais bem sucedidas estamparias do país: dá emprego a 65 pessoas e fatura 3,7 milhões de euros.
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"A verdade é que tomei o gosto ao dinheiro", diz, sem rebuço, João Carlos Cunha, ao mesmo tempo que coloca na aprendizagem que fez ao longo de 13 anos de trabalho o fator mais importante do sucesso alcançado. "Se soubermos fazer as coisas bem feitas, acabamos por ultrapassar as dificuldades que vão aparecendo", assinala o administrador da Jocolor.
E as dificuldades foram muitas, consequência da crise que o setor têxtil atravessou e continua a atravessar. Apesar disso, João Carlos Cunha decidiu apostar num sistema de gestão que privilegia a produtividade: 20% dos lucros da empresa são distribuídos pelos trabalhadores.
Acresce que, apesar da economia dar sinais constantes de afundamento, o administrador da estamparia acredita que o têxtil "tem futuro". "A procura está a aumentar todos os dias. Só depende de sermos capazes de baixar custos de produção e aumentar a competitividade", frisa João Carlos Cunha. "Já conseguimos, por exemplo, competir com a Turquia em termos de custo, mas ainda não somos capazes de produzir em quantidade como eles".
Foi a pensar na competitividade que a Jocolor procurou reduzir custos no uso das colas usadas na estampagem. "Tentamos várias coisas, mas foi o meu sobrinho, engenheiro de sistemas, que encontrou a solução". A solução chama-se ChicolaSpray (Chico porque o sobrinho se chama Francisco) e permitiu reduzir brutalmente os custos: antes, a Jocolor gastava 15 mil euros por mês em cola; agora gasta 100! E um litro de cola "dá para trabalhar 48 horas seguidas". "Todas as estamparias querem a máquina", por razões óbvias.
João Carlos Cunha exibe com orgulho outro trunfo. "Os nossos clientes podem saber sempre, através de um sistema online, em que ponto está a encomenda. A eles permite-lhes conhecer os desperdícios durante a produção, o número de peças que chegaram com defeito e os tamanhos que estão feitos. A nós permite fidelizar o cliente".
No escritório de João Carlos Cunha uma larga janela permite visualizar todo o circuito de produção. Num dos cantos está uma bicicleta estática. "Uso-a algumas vezes, mas o que gosto mesmo é de fazer as minhas caminhadas diárias de 8 quilómetros com os meus amigos". É (também) daí que lhe vem a pedalada para o negócio...