Movimento, Junta e Câmara contra opções do TGV que vão demolir casas e atravessar área protegida.
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A população de Canelas, em Estarreja, contesta a ligação ferroviária de alta velocidade, que vai atravessar aquela zona e causar grande impacto. Há habitações que poderão ser demolidas e áreas protegidas destruídas.
A revolta tem vindo a crescer desde que, há dias, entrou em fase de Consulta Pública o troço da linha ferroviária de alta velocidade que passa em Estarreja, no âmbito do processo de Licenciamento Único de Ambiente. Segundo o estudo, existem duas possibilidades de traçado da Linha de Alta Velocidade: a solução "A" segue a nascente da A1 e a " B" posiciona-se entre o canal da A1 a nascente e o canal da A29 a poente.
Para além disso, de forma a permitir a ligação a Aveiro, surge um "desvio" do TGV pela Linha do Norte, que cria interseções em Canelas (a norte) e em Oiã, Oliveira do Bairro (a sul). Também aqui há três possibilidades em análise, mas todas têm "grande impacto", explicou esta quinta-feira ao JN António Sousa, presidente da União de freguesias de Canelas e Fermelã.
Segundo António Sousa, todas as opções passam pela Zona de Proteção Especial da Ria de Aveiro. Duas obrigarão a "demolir casas", havendo até 20 famílias "em risco", em lugares como Espinhal e outros locais. A que "não apanha casas tem um impacto visual tremendo porque tem um viaduto em frente a casas, que depois passa por cima da A29", especifica o presidente de junta, sublinhando que qualquer uma destas obras irá "destruir as condições de vida dos residentes".
"Para além da linha longitudinal, querem fazer um ramal para ir "passear" o comboio a Aveiro", ironiza Tiago Gassman, porta-voz do Movimento Cívico de Cidadãos de Canelas, para realçar que quando os comboios entrarem na Linha do Norte rumo à estação de Aveiro, terão de circular "mais devagar". Tiago Gassman defende que se "repense todo o projeto" e que, entre outras coisas, se "regresse à bitola europeia em vez da ibérica, que está agora prevista".
Município "esquartejado"
"Para o nosso território não há vantagens e para o país também temos sérias dúvidas", desabafa Diamantino Sabina, presidente da Câmara de Estarreja, realçando que estas obras acrescem a muitas outras infraestruturas, como a A1, A29, Rede Elétrica Nacional e gasoduto, que "esquartejam o município".
O JN pediu hoje esclarecimentos à Infraestruturas de Portugal (IP), que ainda não respondeu.
Para dia 7 está agendada uma sessão da Assembleia Municipal de Estarreja para discutir o tema, para a qual foi convidada a intervir a Infraestruturas de Portugal.