"Falar à moda do Porto é muito mais que trocar os v's pelos b's". E para que não restem dúvidas, o escritor e professor João Carlos Brito lançou um livro onde, através de mil palavras e expressões, demonstra que os portuenses são os únicos que têm "a lábia dos mestres que endrominam qualquer um".
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Das cerca de mil entradas no livro "Falar à moda do Porto", João Carlos Brito garante que não tem favoritos. Explica que "é como quem tem muitos filhos": "Gostamos de todos e não há preferidos".
Mas destaca alguns. Por exemplo, "é ainda muito usado o 'andar à guna' ". Segundo o escritor, a expressão significa "andar de transporte sem pagar bilhete" e vem de anguna que, em Timor, "era uma carrinha de caixa aberta em que as pessoas viajavam penduradas e agarradas aos ferros para não caírem", explicou o autor.
A origem das expressões tripeiras
"São cerca de mil palavras acompanhadas de mil histórias", expõe o autor. Com mais de 20 anos com trabalhos publicados sobre as linguagens marginais, João Carlos Brito deixa neste livro expressões que servem todos os contextos. Desde "peixeirada e biolência", a "piropos e elogios", ou até mesmo as que são "fora da caixa", onde o escritor teve dificuldade em enquadrá-las num capítulo específico.
O livro tem a intenção de divertir e mostrar a história de palavras e expressões a que os portuenses recorrem diariamente. Mas a publicação "não é um dicionário", sublinhou o escritor. "É mais um prontuário onde conto perto de 1000 histórias por detrás das palavras marginais do Grande Porto. São palavras utilizadas frequentemente mesmo que tenham caído ao desuso", explicou.
A intenção de João Carlos Brito em publicar este livro já é de longa data: "Escrevi-o nos últimos dois anos, mas há quase 30 anos que planeava fazê-lo", referiu.
"Herança geracional"
O livro não se destina a uma idade ou público específico. "É para todos. E mesmo para quem usa estas palavras diariamente também poder saber a sua origem".
Para João Carlos Brito, a linguagem é uma "herança geracional" que não está a ser descontinuada ou alterada. "Tenho a certeza que, aqui na cidade, é um legado natural que os pais passam os filhos. Até porque a aprendizagem da língua é feita de uma forma cega, por repetição do que ouvimos", afirmou.
"Continuam a dizer-se coisas que ouvia há 20 ou 30 anos, no tempo do meu avô", acrescentou o autor, que acredita que estes ditos acompanham os tempos e as tendências.
Exemplo perfeito disso será o "até os comemos". Certamente já o ouviu, pelo menos em contexto desportivo. "Mais do que um anúncio de canibalismo, a expressão pretende funcionar como grito entusiasta (...) ou para celebrar um triunfo, uma conquista", pode ler-se no livro.
A obra lançada este mês pode ser adquirida em livrarias ou supermercados, com o preço a rondar os 14 euros. De João Carlos Brito e do mesmo estilo que esta publicação, também pode encontrar o "Dicionário Calão de Norte" e "Em Português nos (des)entendemos".