O número de pedidos de ajuda alimentar aumentou em Coimbra. Chegam sobretudo de famílias com crianças.
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A Cáritas de Coimbra está a realizar a IV edição do Estendal Solidário que se prolonga até sexta-feira na sede da instituição. A iniciativa promove a sustentabilidade ambiental, mas visa também angariar donativos para ajudar quem mais precisa.
Carlos Oliveira, acompanhado da mulher, esteve entre os primeiros visitantes do Estendal Solidário. Com o sogro na instituição, soube da ação e quis contribuir. "É necessário, porque há muita gente que precisa de ajuda e, infelizmente, não há grandes ajudas do Estado. E estas coisas são necessárias", afirma.
Já Cristina Murta aproveitou que foi levar à mãe à Cáritas para dar o seu contributo. Não só comprou algumas coisas, como deixou umas botas que encontrou à porta da sua casa esta manhã. "Vi o anúncio do Estendal Solidário e já não as deixei no contentor", relata.
Entre os objetos disponíveis há roupa, sapatos, louças e livros, para os quais se procura uma segunda vida. Além de contribuir para a sustentabilidade ambiental, a Cáritas pretende angariar donativos para apoiar quem mais precisa. "Adquirimos bens alimentares ou vales de compras para apoiar famílias que nos procuram", aponta Ana Paula Cordeiro, diretora do Centro de Apoio Social (CAS).
"Um dos outros objetivos é que pessoas que também têm algumas dificuldades poderem adquirir coisas por um preço simbólico. Fazem um donativo simbólico e levam algo que normalmente não podem adquirir", acrescenta a diretora.
Os produtos expostos foram doados à Cáritas, alguns difíceis de escoar por não se enquadrarem nas ajudas que fazem, mas não menos importantes. "Em vez de ser uma doação direta, essa doação é convertida em valor monetário para depois podermos apoiar as famílias. O objetivo é sempre cumprido", assinala Ana Paula Cordeiro.
Os preços variam entre 1 e 20 euros. Em edições anteriores, os valores angariados rondaram os 2 mil euros e permitiram, segundo a responsável, ajudar cerca de 20 famílias.
Pedidos de ajuda a aumentar
No ano passado, a Cáritas de Coimbra gastou cerca de 26 mil euros só em apoio alimentar, com o número de pedidos a aumentar cada vez mais. A associação recebe "muitos pedidos de apoio alimentar porque as famílias fazem face às suas despesas normais, como, por exemplo, a renda da casa, que é bastante elevada por norma. Levam um ordenado mínimo, depois pagando a água, a luz e o gás, pouco ou nada sobra para a alimentação", observa Ana Paula Cordeiro.
Os pedidos, segundo a diretora, são "sobretudo de famílias com filhos, uma grande parte delas famílias monoparentais, sobretudo mulheres".
Segundo Ana Paula Cordeiro, pedir ajuda ainda é um estigma. "As pessoas sentem-se envergonhadas. Há muitas pessoas que vêm a medo", diz. "E depois também ainda há muito preconceito por parte das pessoas que não precisam de pedir ajuda, mas que ainda olham para estas pessoas, muitas das vezes, como alguém que está acomodado, que não arranja trabalho por preguiça, por conforto, por comodismo", acrescenta.
Ainda assim, desde 2010, quando abriu o Centro de Apoio Social, Ana Paula Cordeiro sente que houve uma evolução, considerando que, "na altura, havia muito mais estigma do que há hoje". Nos pedidos também há diferenças. Se há 15 anos as pessoas pediam muito ajuda para créditos, agora, diz, "pedem ajuda para coisas essenciais".