Dezenas de estudantes da Universidade de Lisboa estão, ao início da noite desta segunda-feira, a acampar em frente à reitoria, em protesto contra os preços elevados da habitação. Sob o lema "Não consegui pagar a última renda, mudei-me para a Alameda da Cidade Universitária", esta é a primeira ação do movimento "Habitação de Abril".
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O movimento "Habitação de Abril", que nasceu da vontade de quatro estudantes. Um dos fundadores, Afonso Garcia, diz que, por causa do valor das rendas, "há cada vez mais alunos a fazerem várias horas de viagem diariamente para Lisboa para estudar e alguns já abandonaram o ensino superior".
Miguel Cardoso, 21 anos, paga 300 euros por um quarto, no centro de Lisboa, e não tem acesso à sala. "Somos três a dividir um T2. Os meus pais só conseguem pagar porque sou o único filho a estudar, os meus irmãos são mais velhos", conta o estudante de engenharia, natural de Évora, que antes de viver perto da Alameda Dom Afonso Henriques morou nas Laranjeiras, onde pagava 400 euros por quarto.
"Estes preços desmotivam muitos a continuarem a estudar e ingressarem no mestrado, obrigatório em alguns casos no acesso ao mercado de trabalho", lamenta.
Pago 760 euros numa residência privada porque quando procurei casa para viver não havia muitas opções, só encontrei um colchão num sótão por 1000 euros
Beatriz Mestre, 20 anos, natural de Serpa, reconhece que é uma privilegiada, mas garante que não teve alternativa. "Pago 760 euros numa residência privada porque na altura em que procurei casa para viver não havia muitas opções, só encontrei um colchão num sótão por 1000 euros. Foi dificílimo mesmo e os meus pais disseram que preferiam fazer o esforço e pagar essa renda monstruosa do que não estudar", conta a jovem, que mora num prédio com vários colegas estrangeiros.
Cada vez mais, há alunos a fazerem centenas de quilómetros, diariamente, porque sai mais barato do que arrendar um quarto na cidade onde estudam. "De mês para mês, aumentam as situações de estudantes que são obrigados a viverem mais longe e a fazerem mais de uma ou duas horas de viagem, todos os dias, para a faculdade porque não conseguem pagar uma casa em Lisboa e, às vezes, nem na Área Metropolitana de Lisboa", diz Afonso Garcia, presidente da Associação Académica da Universidade de Lisboa, que também se viu obrigado a procurar casa no Cacém, em Sintra.
"O que escolher? Pagar a renda ou comer?" e "Queremos camas para dormir" foram alguns dos recados deixados pelos estudantes em cartazes, ao final da tarde, ao mesmo tempo que decorreu o debate "A geração sem casa" com a presença de vários partidos com assento parlamentar para alertar para "o principal problema que afeta os estudantes universitários".