No Porto, há cada vez mais universitários a optar por comprar trajes académicos em segunda mão ou alugá-los, principalmente para a semana da Queima. A presença desta indumentária é vista como um "luxo" por alguns jovens já que, no total, um traje novo e completo pode chegar aos 350 euros numa loja tradicional.
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"O que me levou a adquirir o traje em segunda mão foi o facto de ser muito mais barato porque o preço é caríssimo, e comprar de uma só vez é muito pesado para a carteira", diz Bruna Santos ao JN.
A estudante da Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto comprou o traje no OLX: "No total, paguei cerca de 60 euros já com sapatos e meias, um valor muito inferior àquele que daria numa loja".
A decisão de comprar "peça a peça" foi tomada pelo menor custo e por uma questão prática, visto que "havia muitas pessoas a vender traje completo, mas por vezes os tamanhos não coincidiam".
Bruna afirma não ter sentido "nenhuma diferença" em usar o uniforme académico em segunda mão, no que toca ao sentimento, e o facto de ter pertencido a outra pessoa "não lhe tira" valor.
"Apesar de já ter sido de alguém, neste momento é meu, são as minhas vivências. Acho que não é o traje que traz simbolismo, são as memórias. Até acho boa ideia que quem sente que já não faz sentido tê-lo o venda ou o dê a outras pessoas que não têm poder financeiro para comprar um novo, assim qualquer pessoa pode ter um", diz.
Semana marcante
Já Inês Cardoso, estudante da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, conta que o valor total do seu traje não passou dos 30 euros, já que todas as peças, incluindo a capa, foram-lhe oferecidas por uma amiga da mãe.
"Desta forma, em vez de gastar 200 euros ou um valor parecido, tive-o de graça. A única coisa que comprei agora foi a pasta, que custou uns 25 euros. No fundo, pode-se dizer que foi esse o preço total do meu traje".
A estudante confessa que o único arrependimento que teve na sua aquisição foi "não ter tido a experiência de ir comprar o traje à loja: muita gente vai com os padrinhos, pais ou amigos e é um acontecimento marcante no percurso das pessoas".
A terminar, acrescenta que também pondera a possibilidade de, mais tarde, oferecer o seu traje a alguém.
Grande afluência
O Centro de Tradição Académica do Porto, "Capas Negras", é uma das lojas de trajes e artigos mais conhecidas na Invicta. Ao JN, o proprietário Miguel Pereira diz que "o preço dos trajes académicos tem-se mantido estável ao longo dos anos".
Atualmente, na loja, um traje completo feminino varia entre os 170 e os 300 euros e o masculino vai dos 220 até aos 350 euros, dependendo do conjunto escolhido: "Normalmente os clientes compram o pack (traje completo) e poucos compram à peça. Depois temos cerca de 1% das pessoas que querem alugar traje, serviço que nós não temos".
Apesar do aumento do número de universitários que optam por alternativas à compra de um traje novo, Miguel Pereira afirma que não sente uma diminuição na afluência dos estudantes à sua loja.
"Acho que 99% das pessoas quer ter o seu traje, com a sua capa e o que aproveitam é a capa do pai ou da mãe, não para poupar dinheiro, mas pelo valor sentimental", refere.
Francisco Farias integra a praxe e nunca pensou em adquirir o traje em segunda mão. Apesar de ser cliente do "Capas Negras", o aluno da Universidade Portucalense considera o ato de comprar traje em segunda mão "completamente viável". Também entende que o valor da indumentária, que "foi criada com o intuito de não haver distinção entre os estudantes mais pobres e mais ricos", não deve impedir ninguém de participar nas atividades académicas. "Quem não consegue pagar, mas quer estar dentro do evento, vai sempre arranjar maneira de o fazer", afirma.