Os ativistas do movimento "Estudantes do Porto em Defesa da Palestina" invadiram, esta segunda-feira, a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). A direção cancelou as aulas desta terça-feira de manhã.
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Alguns manifestantes estão barricados com cadeiras dentro de uma sala da faculdade. Há vários alunos no corredor a gritar palavras de ordem, bem como no esteiro. A polícia bloqueou a porta da faculdade para não permitir a entrada de mais ativistas. A direção da FCUP informou que não haverá aulas esta terça-feira de manhã.
"Que vergonha, que vergonha deve ser, defender o genocídio para ter o que comer" e "a nossa luta é todo o dia contra o massacre de Israel na Palestina" são algumas das frases de ordem que se ouvem no protesto.
Os manifestantes disseram que deram "mais uma oportunidade" à diretora da Faculdade de Ciências para se pronunciar sobre o "genocídio" em Gaza. "Diretora, venha falar connosco ou vai levar connosco", gritou um dos protestantes à janela de uma das salas.
Os manifestantes garantem que só levantam a barricada no interior da faculdade se a a diretora fizer uma declaração.
Queixas à associação de estudantes
Os estudantes pró-Palestina convocaram, para a tarde desta segunda-feira, uma manifestação em frente ao edifício de Ciências da Computação da FCUP, onde estão acampados desde a passada quinta-feira. O protesto surge depois de, no domingo, a direção da FCUP ter solicitado a desocupação do espaço até ao final do dia de hoje.
Em comunicado enviado ao fim da tarde desta segunda-feira, a direção da FCUP informa que apelou aos manifestantes para desmobilizarem até às 20 horas, caso contrário, iria "solicitar a intervenção das autoridades competentes para a reposição da ordem e tranquilidade públicas".
"Esta manifestação começou pacífica e fez cinco dias de pacifidade até que a diretora da faculdade escalou a situação, dizendo que essa mesmo associação pacífica de pessoas não estava prevista ao abrigo de um certo decreto de lei e que ia ser levantada e movida pela polícia às 20 horas de hoje", disse ao JN Pedro Sousa, aluno de doutoramento, acrescentando que "já passa das 20 horas". Pedro Sousa disse ainda ter pena de "partillhar a universidade com reacionários" que "insultaram e tentaram agredir" manifestantes.
O pedido de desocupação surgiu porque, de acordo com a nota enviada ao JN, "vários estudantes da Faculdade de Ciências têm apresentado queixas à sua associação de estudantes sobre a perturbação causada pela aglomeração e atividades desenvolvidas pelos manifestantes nas proximidades das salas de aulas e de estudo".
A direção da FCUP sublinhou "que valoriza o direito à liberdade de expressão e à manifestação pacífica", tendo por isso consentido "a manifestação pró-Palestina nos espaços exteriores aos edifícios durante os últimos quatro dias", mas que também tem o "dever de garantir que todos os estudantes da Faculdade de Ciências possam usufruir das instalações livremente, num ambiente tranquilo e propício ao estudo".
No protesto, marcou presença também o deputado do Bloco de Esquerda (BE), José Soeiro, que disse estar solidário com os manifestantes.
"Acho muito importante que as instituições públicas portuguesas tomem posição e respondam publicamento ao apelo: o apelo é condenar publicamento o genocídio que está em curso na Palestina e romper as relações com o estado de Israel. Para parar este genocídio é preciso fazer todo o tipo de pressão política e diplomática, como se fez em tempos com o apartheid", afirmou ao JN José Soeiro. "O estranho é que se permite que os protestos dentro das faculdades não sejam geridos pelo respeito da autonomia universitária, mas sejam geridos pela polícia. Não me parece que uma diretora apelar que seja a polícia a lidar com um protesto estudantil não faz nenhum sentido. O espaço universitário é um espaço de liberdade, de pensamento crítico e de diálogo".
Docentes apelam à não utilização de polícia
Durante a tarde, meia centena de docentes e trabalhadores não docentes da Universidade do Porto e do Politécnico do Porto apelaram, numa carta aberta, à não utilização de meios policiais contra os estudantes em protesto na Faculdade de Ciências.
Numa carta aberta, a que a Lusa teve acesso, os subscritores - professores, investigadores e trabalhadores - expressam a sua "solidariedade para com os estudantes em luta contra o genocídio em curso na Palestina" e pedem que "não sejam utilizadas, contra os estudantes, e nas [suas] faculdades, meios policiais ou qualquer tipo de intervenção que os vise expulsar de um espaço que é seu".
Defendem ainda que "o caminho a seguir é o da negociação aberta e transparente" entre os estudantes e os órgãos dirigentes das instituições