Trabalho é feito no Laboratório da Águas e Energia do Porto, que avalia a carga vírica detetada.
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O novo Laboratório da Águas e Energia do Porto está, há um mês, a funcionar num edifício desenhado pelo arquiteto Souto Moura e localizado nos jardins da empresa, na Rua do Barão de Nova Sintra. É ali que são monitorizadas as águas que saem nas torneiras das casas dos portuenses e analisadas as recolhas feitas ao longo da rede, nas ribeiras e praias, as águas pluviais e as residuais que chegam às ETAR do Freixo e Sobreiras. Com estas recolhas, o laboratório tem feito previsões quando ao aumento de casos de covid-19 através da percentagem de vírus encontrada na água.
"Duas semanas antes de anunciados os casos de população infetada nós aqui já temos a perceção se o número de infeções será crescente ou decrescente", explica Adelaide Rocha, coordenadora da Unidade de Laboratório. Foi assim em maio e junho, quando o número de infetados subiu, é assim agora, garantindo os responsáveis do laboratório que o número vai continuar a manter-se baixo.
Curiosamente, em janeiro, quando em Portugal morreram mais pessoas, os dados mostraram o contrário por o Porto ter uma população flutuante. As pessoas estavam confinadas em casa, em teletrabalho, as escolas estavam fechadas e essa população diurna encontrava-se fora da cidade e em concelhos limítrofes.
Com qualidade
Para a vice-presidente da Águas do Porto, Ana Cabral, o concelho tem hoje um laboratório preparado para os desafios do futuro tanto para detetar a covid-19 como outro tipo de substâncias ou presença de micro-organismos.
"A água que chega às ETAR tem uma grande quantidade de bactérias e vírus. Nas recolhas que fazemos analisamos essa carga bacteriana. Detetamos o número de cópias e dessa forma vemos se a incidência está a subir ou a baixar", acrescenta a engenheira química. O programa tem a colaboração do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto, que ajuda neste rastreio da covid nas águas residuais.
Carga vírica desaparece
A carga vírica encontrada nas ETAR desaparece com o tratamento das águas, não havendo qualquer risco de contaminação quando lançadas nos cursos de água. Com a permanente monitorização das ribeiras e das praias e os milhares de análises feitas todos os anos, a empresa garante uma segurança de 99,66% da água que sai das torneiras.
Ela é analisada não só quando adquirida à Águas do Douro e Paiva. "Muitas vezes as pessoas queixam-se de alterações de cor ou sabor, mas isso depende das canalizações das casas ou da forma como a água é armazenada nos reservatórios", salienta Adelaide Rocha. Por isso, não é de estranhar que nas análises realizadas às amostras recolhidas em torneiras seja o ferro o metal predominante, seguindo-se o manganês e só depois as bactérias coliformes (derivadas da película bacteriana criada nas canalizações).
No laboratório trabalham 15 pessoas, em várias salas e gabinetes. Enquanto Adelaide Rocha permanece na sala de Química Orgânica, que através do elemento químico carbono deteta as matérias orgânicas na água, Carla Pereira coloca nas placas as amostras entretanto trazidas das praias do Porto por Sara Gomes. Está na sala das sementes que analisa a forma como as bactérias se desenvolvem. Noutro departamento, Sandra Coelho faz a perícia aos padrões da presença do manganês, outra substância química que pode gerar coloração e sabor desagradável.
Projeto
Novo edifício substituiu antigas instalações criada nos anos 1940
O novo laboratório veio substituir um anterior criado na década de 1940 e que se tornava já "insuficiente para as necessidades atuais de garantir um serviço de qualidade". Do antigo edifício pouco ou nada restou, tendo a construção do novo espaço, da autoria de Souto Moura, demorado dois anos sem que as análises laboratoriais da Águas do Porto tivessem sido interrompidas. O investimento foi de cerca de 1,7 milhões de euros. O laboratório encontra-se junto ao Parque das Águas, conhecido pela vegetação - é o antigo bosque e mata da Quinta de Vilar das Oliveiras - e pelas suas fontes e estátuas.