Ex-candidato do PSD a Espinho acusa Montenegro de o afastar por "ajuste de contas"
O presidente da Comissão Política Concelhia do PSD de Espinho, Ricardo Sousa, lançou duras críticas à liderança nacional do partido, acusando diretamente o presidente Luís Montenegro de o afastar da corrida à Câmara Municipal de Espinho por motivos pessoais.
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Em conferência de Imprensa, realizada esta terça-feira, falou em “ajuste de contas pessoal” e denunciou o que considera ser um golpe à democracia interna do partido.
“O que aconteceu é que o partido foi utilizado pelo seu presidente para um ajuste de contas pessoal que me visa diretamente e tem como único propósito a minha eliminação política”, acusou perante os jornalistas.
Ricardo Sousa havia sido indicado como candidato à autarquia pela concelhia de Espinho, decisão aprovada por unanimidade a 13 de novembro de 2024. Posteriormente, essa indicação foi reforçada num plenário de militantes, realizado a 28 de fevereiro de 2025, que aprovou uma moção de apoio com 61 votos a favor, nove abstenções e nenhum voto contra.
No entanto, a Comissão Política Nacional decidiu nomear Jorge Ratola — um adjunto do gabinete de Luís Montenegro — como candidato à Câmara de Espinho, decisão comunicada na reunião da Comissão Política Distrital no dia 2 de julho.
“Foi uma mera comunicação. O único nome que poderia ser votado, segundo os estatutos, era o indicado pela secção. O meu nome nunca foi rejeitado em nenhuma instância do partido”, frisou.
O agora afastado candidato questiona a base da decisão, criticando a justificação apresentada: uma alegada sondagem realizada em outubro de 2024, à qual diz nunca ter tido acesso. “Acenaram com uma suposta sondagem que nunca nos foi mostrada. E permitam que vos diga: se as sondagens alguma vez tivessem sido argumento para afastar um candidato, Luís Montenegro nunca teria sido candidato à Câmara de Espinho por duas vezes”, ironizou.
Segundo Ricardo Sousa, antes da escolha de Jorge Ratola, o partido tentou, sem sucesso, vários convites, entre os quais a nomes como Salvador Malheiro, Miguel Guimarães e Nelson Couto.
“Perante a recusa de toda a gente, pela manifesta falta de razoabilidade com que o processo era gerido, o presidente do partido, em desespero de causa, escolhe um adjunto do seu gabinete para cumprir esse papel.”
Para o líder da concelhia, esta decisão destrói meses de trabalho local e inviabiliza entendimentos com potenciais parceiros como a Iniciativa Liberal ou o CDS. Critica ainda o que considera ser uma atitude autoritária da direção nacional. “Fica claro que se privilegia a subserviência e se abomina a independência. O partido não pode ser usado para satisfazer caprichos familiares ou vinganças pessoais.”
Ricardo Sousa relembrou o seu percurso político, destacando os doze anos como autarca em Espinho, o cargo de adjunto num governo liderado por Pedro Passos Coelho, e a eleição como deputado na XV Legislatura. Insiste que não encontra nenhuma razão política válida para a decisão da direção nacional.
“As competências desta comissão política foram desrespeitadas. Queremos perceber com que base política e estatutária se tomou esta decisão”, afirmou, acrescentando que foi solicitada formalmente a ata da reunião onde a decisão foi tomada.
O dirigente considera o episódio um precedente grave, e inédito em Espinho desde 1976.
“Só um motivo muito forte poderia justificar que, pela primeira vez na nossa história, não se respeitasse a vontade das bases. E até agora, ninguém se levantou contra esta candidatura. Ninguém expressou publicamente qualquer opinião contrária”, concluiu.